segunda-feira, 18 de maio de 2015

O chamado de Davi (1 Samuel 16,3;12)


Esta narrativa sobre a escolha de um novo rei para Israel nos faz pensar naquilo que já dissemos acima, Deus escolhe o que é aparentemente fraco para confundir os fortes. Saul, primeiro rei de Israel havia pecado contra o Senhor cumprindo os desejos do povo e não as ordens dadas por Deus e transmitidas pelo profeta Samuel. Primeiro oferece o sacrifício ao Senhor sem o consentimento Dele, sendo que Ele havia delegado para tal o profeta; depois quando o Senhor manda exterminar os amalecitas e tudo o que possuíam, como bois, ovelhas, cabras, enfim tudo, Saul resolve com o povo guardar os melhores e mais cevados animais para oferecerem em sacrifício ao Senhor.
Samuel é enviado por Deus ao rei e lhe diz que seu descontentamento com Saul estava grande demais e que este, enquanto buscava lhe agradar com sacrifícios, esqueceu-se daquilo que mais agrada ao Senhor: a obediência. Assim como Saul rejeitou as ordens do Senhor, Deus de Israel, assim também o Senhor o estava rejeitando e não mais o queria como rei. Percebemos que Saul tenta agradar o Senhor não por amor e fidelidade, mas para agradar o povo. Toda vez que buscamos agradar outros que não a Deus, caímos no pecado de Saul, pecado tal que muitas vezes nossos vocacionados caem quando tentam agradar seus superiores, abafando aquele desejo que de inicio mostrou-se tão verdadeiro, mas que no decurso do caminho vai se revestindo de um interesse de satisfazer as vontades de todos, menos de Deus e do primeiro ardor que este lançou no coração.
Deus escolhe um novo rei para governar Israel e anuncia a decisão a Samuel e o incumbe de ungir o escolhido. Engraçado porque o profeta quando vê os filhos de Jessé, robustos, fortes, pensa que seria um deles o escolhido de Deus, aí, Ele revela a Samuel uma das mais belas expressões que muitas vezes nos esquecemos: “o que o homem vê não importa,o homem vê a aparência, mas o Senhor olha o coração”. Aqui esta a magnífica lógica de Deus! Aquilo que nós temos falado tanto e que muitas ordens e congregações, também dioceses esqueceram é que essa escolha que Deus  realiza não segue os critérios humanos, pois estes são falhos.
Somente quem conhece nosso intimo, com todas as nossas intenções, na sinceridade que se abriga no mais profundo de nossa alma, pode, julgar segundo a verdade e não segundo a aparência. Quantos de nossos jovens são descartados logo no primeiro contato buscando discernir a sua vocação, porque, acreditem-me, são sinceros demais em sua busca. Quantos são taxados como bobos quando expõe de maneira magnífica seu amor e seu desejo de abandono completo nas mãos de Deus, quando, não obstante seus pecados e fraquezas, querem ser sinais de um amor que ultrapassa beleza, utilidade e tantos outros requisitos que na busca de uma emprego seriam muito úteis, mas para aqueles que foram chamados a uma vocação sublime não passam de empecilhos grosseiros que usam critérios humanos e menosprezam o que Deus escolhe por seus critérios.
O franzido e louro Davi, pastor de ovelhas, aparentemente menosprezado pelo próprio pai, o menos entre os filhos de Jessé, este é o escolhido para governar o povo de Israel e ser ungido como rei do Senhor. Ao final da narrativa da unção de Davi o autor diz que “o Espírito do Senhor se apoderou de Davi”, ainda hoje acontece com tantos jovens que tem seus corações inundados pelo Espírito do Senhor e que são sal na massa e luz do mundo, que com seu testemunho arrastam atrás de si até Deus muitos homens e mulheres, que tem a boca e o coração transbordando do Evangelho e que anseiam por anuncia-lo, mas são considerados “Davis” ainda hoje, não aprazíveis aos olhos pela sua baixa estatura.
Davi como rei de Israel cometeu pecados, mas soube se arrepender e pedir perdão a Deus, soube também vibrar de alegria na presença de Deus na arca, de compor salmos e cânticos expressando os sentimentos seus e do povo e transforma-los em orações tão belas que ainda hoje as usamos em nossas liturgias e momentos de orações. Encontramos numerosas semelhanças com tantos vocacionados que aspiram a consagração, seja no sacerdócio ou na vida religiosa, que embora tenham seus defeitos e fraquezas, limitações e incapacidades para isso ou aquilo, mas demonstram uma maravilhosa sensibilidade para ouvir, dialogar, caminhar, orientar e animar o povo na busca o cumprimento da vontade de Deus.
“Não te deixeis impressionar pelo seu aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração”.


quinta-feira, 7 de maio de 2015

O chamado de Samuel (1 Samuel 3)

Talvez essa seja um dos chamados mais meditados por todos os que sentem seus corações arderem por servir o Senhor. Filho de uma mãe que era estéril e que depois de se sentir humilhada e com a alma amargurada se coloca na presença do Senhor e consegue transformar seu sofrimento em uma belíssima oração da qual ela mesma denomina como “rasgar a alma na presença do Senhor” ( para mim uma das mais belas expressões, senão definição de oração que a Sagrada Escritura apresenta ). Deus que nunca se esquece daquele que eleva sua voz clamando por socorro, ouviu o pedido de Ana e lhe concedeu um filho, o qual foi consagrado ao serviço do Senhor no Templo e posteriormente atuou como juiz junto ao povo de Israel.
Meditando sobre esta narrativa da vocação de Samuel, me chamou a atenção que o autor diz que ele ainda não conhecia o Senhor. Nós podemos nos perguntar: como pode alguém a quem Deus chama para uma missão especifica ainda não conhecê-lo? Tudo que Deus faz tem um propósito que ultrapassa nosso pobre conceito e conhecimento humano. Assim Ele faz com que alguém que ainda não o conhece vá se habituando com sua presença e o forma não segundo os preceitos humanos, mas segundo o seu coração e a missão a qual pretende confiar-lhe. Lembremo-nos de Abraão que não conhecia ainda o Deus verdadeiro, que tinha uma ideia de que aquela religião que o circundava não poderia ser ou não haveria de ser a que agradaria a Deus e que aquele a quem adoravam não seria o Deus verdadeiro. Conceitos que vão nos afastando do coração e da missão que Deus nos chama e nos confia.
Samuel é entregue ao Templo do Senhor para ser formado nas coisas do Senhor, muito mais do que esperava sua mãe, que pensava ele ser formado por Heli, o pequeno é tomado sob a guarda do próprio Deus que o educa tanto nas suas leis quando na sua humanidade. Seu chamado pode ser comparável aos de muitos vocacionados e vocacionadas que desde pequenos não conhecem ainda Deus e suas leis com a razão, mas já sentem o chamado de se consagrarem totalmente a uma missão que ainda nem lhes foi apresentada racionalmente, mas lhes está infundia na alma pela ação do Espírito Santo.
O pequeno Samuel servia ao Senhor no seu Templo sob a tutela de Heli, um sacerdote que em consequência de sua idade avançada tinha os olhos quase cegos. O menino dormia no Templo quando ouviu a voz de Deus a lhe chamar uma, duas, três vezes, levantando-se foi se apresentar ao sacerdote, pois achava que era este quem o chamava; mas em todas as vezes ele lhe dizia que não tinha chamado e que o menino voltasse a dormir. Sacerdote já experimentado no serviço de Deus percebe que o insistente chamado não era senão do próprio Deus que queria o menino para seu serviço de forma especifica. Somente ao final da terceira chamada, antes de mandar o menino voltar ao leito, Heli o orienta como deveria responder caso houvesse o chamado insistisse.
Há então uma quarta chamada e o menino responde: “fala que vosso servo te escuta”; então o Senhor se manifesta e lhe revela seu plano para com aquele povo que havia se extraviado do caminho e abandonado às leis de Deus. O menino seria sinal da presença de Deus no meio do povo e sua palavra ecoaria como ressonância da voz do Senhor alertando para que retornassem ao caminho.
Quantos vocacionados são chamados por Deus ainda no ventre de suas mães, antes mesmo da palavra do Senhor lhes ser revelada. Quantos deste de pequenos são notáveis servos de Deus, dando um pequeno, mas considerável testemunho de que Ele tudo pode e tudo sabe e que faz o que quer com as obras de suas mãos. Quantos “brincam de celebrar missa”, de pregarem, de rezarem... brincadeira não sei até que ponto, porque o fazem não para agradarem a alguém ou para aparecerem, mas o fazem porque sentem-se inclinados naturalmente para aquilo. Aqui podemos inserir um alerta aos pais e àqueles que são incumbidos de cuidar desses pequenos: não os desanimem, os incentive, os oriente, ou senão o souberem fazer, procurem quem saiba, mas não os ridicularizem nem os menosprezem, porque Deus ainda continua a chamar.