O
chamado de Samuel (1 Samuel 3)
Talvez essa seja um dos chamados mais
meditados por todos os que sentem seus corações arderem por servir o Senhor.
Filho de uma mãe que era estéril e que depois de se sentir humilhada e com a
alma amargurada se coloca na presença do Senhor e consegue transformar seu
sofrimento em uma belíssima oração da qual ela mesma denomina como “rasgar a
alma na presença do Senhor” ( para mim uma das mais belas expressões, senão
definição de oração que a Sagrada Escritura apresenta ). Deus que nunca se
esquece daquele que eleva sua voz clamando por socorro, ouviu o pedido de Ana e
lhe concedeu um filho, o qual foi consagrado ao serviço do Senhor no Templo e
posteriormente atuou como juiz junto ao povo de Israel.
Meditando sobre esta narrativa da
vocação de Samuel, me chamou a atenção que o autor diz que ele ainda não
conhecia o Senhor. Nós podemos nos perguntar: como pode alguém a quem Deus
chama para uma missão especifica ainda não conhecê-lo? Tudo que Deus faz tem um
propósito que ultrapassa nosso pobre conceito e conhecimento humano. Assim Ele
faz com que alguém que ainda não o conhece vá se habituando com sua presença e
o forma não segundo os preceitos humanos, mas segundo o seu coração e a missão
a qual pretende confiar-lhe. Lembremo-nos de Abraão que não conhecia ainda o
Deus verdadeiro, que tinha uma ideia de que aquela religião que o circundava
não poderia ser ou não haveria de ser a que agradaria a Deus e que aquele a
quem adoravam não seria o Deus verdadeiro. Conceitos que vão nos afastando do
coração e da missão que Deus nos chama e nos confia.
Samuel é entregue ao Templo do Senhor
para ser formado nas coisas do Senhor, muito mais do que esperava sua mãe, que
pensava ele ser formado por Heli, o pequeno é tomado sob a guarda do próprio
Deus que o educa tanto nas suas leis quando na sua humanidade. Seu chamado pode
ser comparável aos de muitos vocacionados e vocacionadas que desde pequenos não
conhecem ainda Deus e suas leis com a razão, mas já sentem o chamado de se
consagrarem totalmente a uma missão que ainda nem lhes foi apresentada
racionalmente, mas lhes está infundia na alma pela ação do Espírito Santo.
O pequeno Samuel servia ao Senhor no
seu Templo sob a tutela de Heli, um sacerdote que em consequência de sua idade
avançada tinha os olhos quase cegos. O menino dormia no Templo quando ouviu a
voz de Deus a lhe chamar uma, duas, três vezes, levantando-se foi se apresentar
ao sacerdote, pois achava que era este quem o chamava; mas em todas as vezes
ele lhe dizia que não tinha chamado e que o menino voltasse a dormir. Sacerdote
já experimentado no serviço de Deus percebe que o insistente chamado não era
senão do próprio Deus que queria o menino para seu serviço de forma especifica.
Somente ao final da terceira chamada, antes de mandar o menino voltar ao leito,
Heli o orienta como deveria responder caso houvesse o chamado insistisse.
Há então uma quarta chamada e o
menino responde: “fala que vosso servo te escuta”; então o Senhor se manifesta
e lhe revela seu plano para com aquele povo que havia se extraviado do caminho
e abandonado às leis de Deus. O menino seria sinal da presença de Deus no meio
do povo e sua palavra ecoaria como ressonância da voz do Senhor alertando para
que retornassem ao caminho.
Quantos vocacionados são chamados por
Deus ainda no ventre de suas mães, antes mesmo da palavra do Senhor lhes ser
revelada. Quantos deste de pequenos são notáveis servos de Deus, dando um
pequeno, mas considerável testemunho de que Ele tudo pode e tudo sabe e que faz
o que quer com as obras de suas mãos. Quantos “brincam de celebrar missa”, de
pregarem, de rezarem... brincadeira não sei até que ponto, porque o fazem não
para agradarem a alguém ou para aparecerem, mas o fazem porque sentem-se
inclinados naturalmente para aquilo. Aqui podemos inserir um alerta aos pais e
àqueles que são incumbidos de cuidar desses pequenos: não os desanimem, os
incentive, os oriente, ou senão o souberem fazer, procurem quem saiba, mas não
os ridicularizem nem os menosprezem, porque Deus ainda continua a chamar.
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