quinta-feira, 7 de maio de 2015

O chamado de Samuel (1 Samuel 3)

Talvez essa seja um dos chamados mais meditados por todos os que sentem seus corações arderem por servir o Senhor. Filho de uma mãe que era estéril e que depois de se sentir humilhada e com a alma amargurada se coloca na presença do Senhor e consegue transformar seu sofrimento em uma belíssima oração da qual ela mesma denomina como “rasgar a alma na presença do Senhor” ( para mim uma das mais belas expressões, senão definição de oração que a Sagrada Escritura apresenta ). Deus que nunca se esquece daquele que eleva sua voz clamando por socorro, ouviu o pedido de Ana e lhe concedeu um filho, o qual foi consagrado ao serviço do Senhor no Templo e posteriormente atuou como juiz junto ao povo de Israel.
Meditando sobre esta narrativa da vocação de Samuel, me chamou a atenção que o autor diz que ele ainda não conhecia o Senhor. Nós podemos nos perguntar: como pode alguém a quem Deus chama para uma missão especifica ainda não conhecê-lo? Tudo que Deus faz tem um propósito que ultrapassa nosso pobre conceito e conhecimento humano. Assim Ele faz com que alguém que ainda não o conhece vá se habituando com sua presença e o forma não segundo os preceitos humanos, mas segundo o seu coração e a missão a qual pretende confiar-lhe. Lembremo-nos de Abraão que não conhecia ainda o Deus verdadeiro, que tinha uma ideia de que aquela religião que o circundava não poderia ser ou não haveria de ser a que agradaria a Deus e que aquele a quem adoravam não seria o Deus verdadeiro. Conceitos que vão nos afastando do coração e da missão que Deus nos chama e nos confia.
Samuel é entregue ao Templo do Senhor para ser formado nas coisas do Senhor, muito mais do que esperava sua mãe, que pensava ele ser formado por Heli, o pequeno é tomado sob a guarda do próprio Deus que o educa tanto nas suas leis quando na sua humanidade. Seu chamado pode ser comparável aos de muitos vocacionados e vocacionadas que desde pequenos não conhecem ainda Deus e suas leis com a razão, mas já sentem o chamado de se consagrarem totalmente a uma missão que ainda nem lhes foi apresentada racionalmente, mas lhes está infundia na alma pela ação do Espírito Santo.
O pequeno Samuel servia ao Senhor no seu Templo sob a tutela de Heli, um sacerdote que em consequência de sua idade avançada tinha os olhos quase cegos. O menino dormia no Templo quando ouviu a voz de Deus a lhe chamar uma, duas, três vezes, levantando-se foi se apresentar ao sacerdote, pois achava que era este quem o chamava; mas em todas as vezes ele lhe dizia que não tinha chamado e que o menino voltasse a dormir. Sacerdote já experimentado no serviço de Deus percebe que o insistente chamado não era senão do próprio Deus que queria o menino para seu serviço de forma especifica. Somente ao final da terceira chamada, antes de mandar o menino voltar ao leito, Heli o orienta como deveria responder caso houvesse o chamado insistisse.
Há então uma quarta chamada e o menino responde: “fala que vosso servo te escuta”; então o Senhor se manifesta e lhe revela seu plano para com aquele povo que havia se extraviado do caminho e abandonado às leis de Deus. O menino seria sinal da presença de Deus no meio do povo e sua palavra ecoaria como ressonância da voz do Senhor alertando para que retornassem ao caminho.
Quantos vocacionados são chamados por Deus ainda no ventre de suas mães, antes mesmo da palavra do Senhor lhes ser revelada. Quantos deste de pequenos são notáveis servos de Deus, dando um pequeno, mas considerável testemunho de que Ele tudo pode e tudo sabe e que faz o que quer com as obras de suas mãos. Quantos “brincam de celebrar missa”, de pregarem, de rezarem... brincadeira não sei até que ponto, porque o fazem não para agradarem a alguém ou para aparecerem, mas o fazem porque sentem-se inclinados naturalmente para aquilo. Aqui podemos inserir um alerta aos pais e àqueles que são incumbidos de cuidar desses pequenos: não os desanimem, os incentive, os oriente, ou senão o souberem fazer, procurem quem saiba, mas não os ridicularizem nem os menosprezem, porque Deus ainda continua a chamar.


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