segunda-feira, 27 de abril de 2015

O chamado de Moisés (Êxodo 3,1-15)

Como dissemos acima, Deus chama quem quer, como quer, quando quer, para a missão que quiser, isto é um fato que podemos notar em todos os vocacionados que a Sagrada Escritura nos apresenta. Mas alguns chamados são de forma tão específicos encaminhados para certas missões que ficamos fascinados pela forma com que Deus vai orientando tudo para o bom êxito da obra. Assim foi com Moisés! Filho de hebreus, nascido no Egito, em um povo escravo, oprimido e humilhado pelo faraó e seu povo, sobrevivente de uma chacina que pretendia exterminar toda prole masculina para não haver perigo da formação de um exercito hebreu o que desencadearia em uma revolta.
Pelo amor de mãe, de uma que o gerou e de outra que o salvou, pela primeira foi posto em um cesto e deixado á sorte nas águas do Nilo, enquanto permanecia orando ao Deus verdadeiro que o pudesse conduzir aos braços de alguém que o pudesse amar e cuidar. Assim chegou o menino aos braços da filha do faraó, a qual o amou, educou e o adotou como filho, contrariando a lógica humana, a raça tão temida pelo faraó de tomar-lhe o poder e se libertar da escravidão, entra no seio da família real, não mais como um menino que por sua origem deveria morrer, mas agora como parte do poder dominante.
Para nossa inteligência é quase, senão totalmente impossível pensar que de algo que só gera dor e sofrimento possa ser tirado algo bom, que possa gerar vida e felicidade a todo um povo. Mas a Deus, que conseguiu tirar do nada toda a criação que conhecemos, que chamou a todos à vida e ao homem, formado do barro e chamado não só á vida, mas a participar da vida divina de seu Criador, seria a desgraça empecilho para que conseguisse algo de bom?
Acontece com este hebreu algo semelhante ao nosso vocacionado anterior, ou seja, era bem sucedido. Criado na corte do faraó gozava de tratamento similar aos outros membros da família real, tinha status, respeito, possivelmente aspirava algum cargo na administração do reino, em resumo, havia alcançado aquilo que muitos egípcios aspiravam e ouso dizer, até trabalhavam para conquistar.
Com nosso Moisés podemos perceber um protótipo de muitos chamados que Deus realiza ainda hoje; os acontecimentos que nos cercam no cotidiano. Ao ver um povo tão sofrido e mau tratado, escravizado, que clamava aos céus e ao governante misericórdia e piedade; sentiu nascer dentro de seu coração uma inquietação, uma revolta que o fez cometer algo horrível, o assassinato de um egípcio. Ele é banido do Egito para não mais voltar. Em consideração á sua criação na corte lhe é permitido sair com vida do meio deles, mas o preço é o exílio.
Como dissemos, Deus consegue tirar da desgraça a graça, da maldição, a benção, da morte, a vida. Assim, neste exílio sofrido, Moisés se torna um pastor de ovelhas, e nesta fase de sua vida que o chamado irá se manifestar de forma clara e divina, aí ele conhecerá a inquietude que o fez matar um soldado egípcio, aí passa a saber que muito mais que uma revolta política e social, aquele que o chamava para algo, até então desconhecido, passa agora a saber de forma clara sobre o chamado, mas ainda os meios para a plena realização da missão dada era-lhe obscura.
Deus lhe chama do meio de uma sarça ardente que queimava, mas não se consumia. É muito bonita a narrativa, pois nos dá sinais de como é o chamado que toca em nossos corações. Não algo gritado à rivilia, no desespero de quem precisa que alguém venha, mas direcionado a uma pessoa especifica, única, amada e esperada por Deus. Deus chama pelo nome, o que implica individualidade, personalidade; existe um dialogo entre o autor do chamado e aquele que é chamado; quem chama sabe o nome do vocacionado, o que gera neste um desejo de conhecer o nome daquele que o chama.
O medo da missão, ou melhor, o medo de não conseguir cumpri-la ou de não desenvolver meios para isso, fazem com que o vocacionado se questione e exponha estes questionamentos ao que o chama. Somos todos limitados e imperfeitos! Aquilo que eu domino, outro pode fazer melhor e outro pode nem imaginar como se faz. Há uma grande diferença ontológica entre todos nós, e é exatamente nessa diferença que o chamado toma graça e dinamismo, porque trabalha com que temos e sabemos, com uma margem para a possibilidade de aprendizado ou de aperfeiçoamento.
A ousadia de Moisés é admirável, pois é inocente. Ele conversa com a manifestação que seus olhos contemplam crendo que se tratava apenas de uma visão, não sabia que o Senhor de tudo lhe chamava, olhava-lhe com carinho e daquele gesto revoltado acontecido no longínquo Egito, o seu coração se preparava para algo mais digno e pelo qual tudo o que havia acontecido antes tinha sido minuciosamente preparado e orientado por Deus para um bem maior. Digo acima inocente porque o dialogo acontece de forma tão fluente entre um e outro que podemos quase vislumbrar nossa própria vocação na de Moisés.
Há um chamado, é imposto um empecilho pelo vocacionado, o chamado é insistente, a apresentação pelo vocacionado dos empecilhos se torna enfática, quem chama fala da missão, o vocacionado se sente incapaz de a realizar, Deus afirma que estará com ele e lhe revela seu nome, como deveria ser cada passo da missão, o vocacionado ainda sim teme não ser creditado, Deus dá sinais de sua presença com ele, ainda sim o vocacionado diz não ter capacidade para realizar a missão por não ter desenvoltura no falar e pede que a missão seja delegada a outra pessoa de maior habilidade, Deus então “irritado” lhe dá um companheiro para missão, mas não o libera da missão, pelo contrário, o confirma e lhe assegura que quando for executa-la, Ele mesmo estará com eles para que tudo seja conforme seu coração.
Diante de tão veemente desejo de Deus que chama o que restaria a Moisés senão coresponder ao chamado de forma positiva. Ele se entregou á missão que lhe confiaram e tudo foi se encaixando; não de imediato, mas no momento oportuno em que a divina majestade tinha preparado. É muito bonito pensarmos que Aquele que tudo fez e que não depende de ninguém para existir ou manter a existência das criaturas, necessitou, quis necessitar do homem para que a obra de salvação do povo hebreu acontecesse. Hoje ainda Deus nos chama para continuarmos a obra de salvação que Cristo nos trouxe por sua encarnação, morte e ressurreição, para sermos construtores deste Reino que terá sua plenitude quando à segunda vinda de nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo; mas a resposta é sempre nossa e deve ser livre, consciente e amorosa.


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