quinta-feira, 9 de abril de 2015

Chamado inquietante



Deus sempre vem chamando ao longo dos tempos homens e mulheres que estejam abertos a ouvirem seu chamado e o seguirem. Os critérios dos que são chamados fogem completamente à nossa razão e à nossa lógica e nos faz concordar com São Paulo quando diz que “Deus escolhe o que é fraco para confundir os fortes”, seja como for, não conseguiremos jamais entender os critérios de escolha Daquele que nos conhece melhor que nos mesmos e que por isso, deveria estar mais atento a quem chama.
Este trabalho não visa nenhum critério teológico, exegético, apologético ou outro qualquer meio cientifico ou afins, antes de tudo é fruto de um profundo questionamento de meu chamado e de minhas incertas buscas de resposta a quem me chamou. Sempre que a vida nos faz experimentar algo que não esperávamos ou que não estávamos preparados, surge um questionamento que por vezes buscamos sufocar para que a resposta não nos amedronte ainda mais. Ao irmos de encontro com essas perguntas interiores que não nos deixam em paz, pode acontecer de encontrarmos a solução, as coisas que até então pareciam tão obscuras e tortuosas para nossa vida e nossa escolha vocacional que eram tão certas e sem margem para qualquer sombra de duvida, passam a resvalar em ocasos que nos podem conduzir a um frustração ou a uma libertação, mas a resposta depende de nós, assim como a reação diante da verdade.
Após percorrer vários caminhos vocacionais, buscando corresponder ao chamado que acreditava ter, me defronto com mais uma saída de uma comunidade religiosa da qual, acreditava firmemente pertencer e da qual queria fazer parte de forma definitiva. Foram três anos e meio nesta Ordem religiosa ao longo dos quais fui renunciando, adaptando, confrontando, questionando, amadurecendo, vivendo, rezando, estudando... fazendo planos para um futuro, que acreditava eu, estar fundando bases solidas.
Mais uma vez me perguntava o que estava acontecendo. Porque acontecia isso comigo? O que teria feito eu de errado para ser “convidado a repensar minha vocação”? Acaso teria eu feito algo que tivesse desabonado minha conduta diante dos superiores? Porque comigo e havia gente pior que eu? Sei que não sou santo e nem um exemplo de religioso a ser seguido, mas ao menos tinha uma busca de coerência de vida, enquanto outros nem isso! Porque, porque e por que... esses eram meus questionamentos. Mas, nem sempre a resposta é de acordo com a pergunta e por vezes a pergunta não terá a resposta que esperamos e aquilo que deveria iluminar e dissipar as duvidas as afunda ainda mais.
Aproveitando o lugar privilegiado onde estou, usufruindo de um silêncio quase que imposto, sem preocupação com horários e compromissos, dedicando-me mais à leitura, a oração, a pintura e ao descanso, senti um desejo forte de escrever algo que pudesse, quem sabe futuramente, mas de momento para mim, ajudar a clarear algumas noções a partir da lectio divina (leitura orante) e da reflexão, como disse acima, sem pretensão teológica, meditar sobre alguns chamados relatados na Sagrada Escritura.
Começaremos percorrendo o “caminho vocacional” de Adão, passando pelo chamado de Abraão, Moises, Davi, Jonas, Samuel, Jeremias, Isaias, Ester, entre outros do Antigo Testamento até João Batista que é considerado o ultimo dos profetas. Depois iniciaremos uma reflexão sobre os vocacionados do Novo Testamento: Maria, Zacarias, os discípulos, os apóstolos, os personagens convidados por Jesus até alguns trechos das cartas. Chamados e chamados. Deus a cada um chama de um jeito, para uma missão, e vai, ao longo da estrada, formando aquele que Ele escolheu, vai dando condições para que a missão seja bem cumprida. Somos todos diferentes, e é nessa diferença ontológica e antropológica que Deus vai agindo, pois Ele conhece bem aqueles que criou.
Se acaso discordarem de alguma reflexão ou de algum ponto de vista, peço que levem em consideração que aqui se trata de uma lectio a partir de minha experiência de fé e de pessoa. Creio que a Sagrada Escritura é inspirada por Deus como afirmam os documentos da Igreja e o Sagrado Magistério, creio que o Espírito Santo conduziu seus autores, os quais escreveram a partir de suas experiências de Deus e o escreveram não como letra morta, o escrito pelo escrito, mas escreveram para falarem de um Deus que vem a nossa historia e que se deixa tocar pelo homem e não só tocar, mas toca o homem e se faz homem.
Se algo que for escrito aqui ofender ou magoar alguém, peço antecipadamente desculpas e orações para que se houver uma próxima oportunidade  não o repita, se algo que aqui escrevo ajudar alguém que esteja passando pelas mesmas agruras que agora passo, e se puder por um pouco de luz sobre a situação, agradeça a Deus por usar criatura tão pequena e pecadora para que a sua graça alcance quem precise. Sei que a realidade de muitos jovens são parecidas com a minha, sei não de ouvir falar, mas sei porque convivi com muitos que na sua condição de homens limitados e cada um com suas guerras espirituais, psicológicas, afetivas para travar sentiam uma mesma inquietação que os impelia para seguirem à voz que os chamava. Voz essa que muito mais audível nos ouvidos o é no coração e na alma.

Como é difícil sentir que nossa alma e nosso coração tende para Deus mas que nosso corpo e nossa razão clamam pelo mundo e por coisas que o mundo pode nos proporcionar, coisas essas que nem sempre são ruins, talvez um bom emprego, um amor, uma posição social, um bom salário, a carreira dos sonhos... tudo o que diante do chamado é pó e lixo. Que minha caminhada possa encoraja-lo ou encoraja-la a acompanhar-me e a discernir bem se o chamado é uma vocação ou uma invocação (no sentido de ter obstinado em determinada coisa e não dar margem para outras possibilidades). Que estes homens e mulheres que nos antecederam na busca de resposta deste chamado inquietante possam nos ajudar com sua intercessão e junto a Deus conduzir-nos nos caminhos que nos realizará como pessoa e como filho amado de um Pai que nos chamou à vida e que quer nos conduzir à felicidade, muito mais do que neste mundo, mas para a felicidade eterna junto dele.

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