Chamado
inquietante
Deus sempre vem chamando ao longo dos
tempos homens e mulheres que estejam abertos a ouvirem seu chamado e o
seguirem. Os critérios dos que são chamados fogem completamente à nossa razão e
à nossa lógica e nos faz concordar com São Paulo quando diz que “Deus escolhe o
que é fraco para confundir os fortes”, seja como for, não conseguiremos jamais
entender os critérios de escolha Daquele que nos conhece melhor que nos mesmos
e que por isso, deveria estar mais atento a quem chama.
Este trabalho não visa nenhum
critério teológico, exegético, apologético ou outro qualquer meio cientifico ou
afins, antes de tudo é fruto de um profundo questionamento de meu chamado e de
minhas incertas buscas de resposta a quem me chamou. Sempre que a vida nos faz
experimentar algo que não esperávamos ou que não estávamos preparados, surge um
questionamento que por vezes buscamos sufocar para que a resposta não nos
amedronte ainda mais. Ao irmos de encontro com essas perguntas interiores que
não nos deixam em paz, pode acontecer de encontrarmos a solução, as coisas que
até então pareciam tão obscuras e tortuosas para nossa vida e nossa escolha
vocacional que eram tão certas e sem margem para qualquer sombra de duvida, passam
a resvalar em ocasos que nos podem conduzir a um frustração ou a uma libertação,
mas a resposta depende de nós, assim como a reação diante da verdade.
Após percorrer vários caminhos
vocacionais, buscando corresponder ao chamado que acreditava ter, me defronto
com mais uma saída de uma comunidade religiosa da qual, acreditava firmemente
pertencer e da qual queria fazer parte de forma definitiva. Foram três anos e
meio nesta Ordem religiosa ao longo dos quais fui renunciando, adaptando,
confrontando, questionando, amadurecendo, vivendo, rezando, estudando...
fazendo planos para um futuro, que acreditava eu, estar fundando bases solidas.
Mais uma vez me perguntava o que
estava acontecendo. Porque acontecia isso comigo? O que teria feito eu de
errado para ser “convidado a repensar minha vocação”? Acaso teria eu feito algo
que tivesse desabonado minha conduta diante dos superiores? Porque comigo e
havia gente pior que eu? Sei que não sou santo e nem um exemplo de religioso a
ser seguido, mas ao menos tinha uma busca de coerência de vida, enquanto outros
nem isso! Porque, porque e por que... esses eram meus questionamentos. Mas, nem
sempre a resposta é de acordo com a pergunta e por vezes a pergunta não terá a
resposta que esperamos e aquilo que deveria iluminar e dissipar as duvidas as
afunda ainda mais.
Aproveitando o lugar privilegiado
onde estou, usufruindo de um silêncio quase que imposto, sem preocupação com
horários e compromissos, dedicando-me mais à leitura, a oração, a pintura e ao
descanso, senti um desejo forte de escrever algo que pudesse, quem sabe
futuramente, mas de momento para mim, ajudar a clarear algumas noções a partir
da lectio divina (leitura orante) e da reflexão, como disse acima, sem
pretensão teológica, meditar sobre alguns chamados relatados na Sagrada Escritura.
Começaremos percorrendo o “caminho
vocacional” de Adão, passando pelo chamado de Abraão, Moises, Davi, Jonas,
Samuel, Jeremias, Isaias, Ester, entre outros do Antigo Testamento até João
Batista que é considerado o ultimo dos profetas. Depois iniciaremos uma
reflexão sobre os vocacionados do Novo Testamento: Maria, Zacarias, os
discípulos, os apóstolos, os personagens convidados por Jesus até alguns
trechos das cartas. Chamados e chamados. Deus a cada um chama de um jeito, para
uma missão, e vai, ao longo da estrada, formando aquele que Ele escolheu, vai
dando condições para que a missão seja bem cumprida. Somos todos diferentes, e
é nessa diferença ontológica e antropológica que Deus vai agindo, pois Ele
conhece bem aqueles que criou.
Se acaso discordarem de alguma
reflexão ou de algum ponto de vista, peço que levem em consideração que aqui se
trata de uma lectio a partir de minha experiência de fé e de pessoa. Creio que
a Sagrada Escritura é inspirada por Deus como afirmam os documentos da Igreja e
o Sagrado Magistério, creio que o Espírito Santo conduziu seus autores, os
quais escreveram a partir de suas experiências de Deus e o escreveram não como
letra morta, o escrito pelo escrito, mas escreveram para falarem de um Deus que
vem a nossa historia e que se deixa tocar pelo homem e não só tocar, mas toca o
homem e se faz homem.
Se algo que for escrito aqui ofender
ou magoar alguém, peço antecipadamente desculpas e orações para que se houver
uma próxima oportunidade não o repita,
se algo que aqui escrevo ajudar alguém que esteja passando pelas mesmas agruras
que agora passo, e se puder por um pouco de luz sobre a situação, agradeça a
Deus por usar criatura tão pequena e pecadora para que a sua graça alcance quem
precise. Sei que a realidade de muitos jovens são parecidas com a minha, sei
não de ouvir falar, mas sei porque convivi com muitos que na sua condição de
homens limitados e cada um com suas guerras espirituais, psicológicas, afetivas
para travar sentiam uma mesma inquietação que os impelia para seguirem à voz
que os chamava. Voz essa que muito mais audível nos ouvidos o é no coração e na
alma.
Como é difícil sentir que nossa alma
e nosso coração tende para Deus mas que nosso corpo e nossa razão clamam pelo
mundo e por coisas que o mundo pode nos proporcionar, coisas essas que nem
sempre são ruins, talvez um bom emprego, um amor, uma posição social, um bom
salário, a carreira dos sonhos... tudo o que diante do chamado é pó e lixo. Que
minha caminhada possa encoraja-lo ou encoraja-la a acompanhar-me e a discernir
bem se o chamado é uma vocação ou uma invocação (no sentido de ter obstinado em
determinada coisa e não dar margem para outras possibilidades). Que estes
homens e mulheres que nos antecederam na busca de resposta deste chamado
inquietante possam nos ajudar com sua intercessão e junto a Deus conduzir-nos
nos caminhos que nos realizará como pessoa e como filho amado de um Pai que nos
chamou à vida e que quer nos conduzir à felicidade, muito mais do que neste
mundo, mas para a felicidade eterna junto dele.
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