terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O chamado de Eliseu (1 Reis 19,19-20)
Neste chamado que podemos antever o chamado que no Novo Testamento, mais propriamente nos Evangelhos, Jesus o fará a alguns homens que trabalhavam como pescadores, a diferença é que estes imediatamente largaram tudo e o seguiram sem informações de terem ido se despedirem de seus familiares. Mas o profeta Elias ao jogar o manto sobre o agricultor Eliseu o faz, segundo a tradição, seu discípulo. Interessante notarmos que ao fazer o gesto do manto, Elias não para, continua andando, como se ao profeta não fosse permitido parar porque a urgência do anúncio e iminente.
Eliseu vai, despede-se de sua família, lhe dá de comer e ainda oferece um sacrifício a Deus – como que agradecendo ao Senhor por aquele chamado – depois segue Elias e se põe a seu serviço. Estranho vermos que o profeta chama, em nome de Deus um discípulo e o texto termina dizendo que “em seguida, partiu e seguiu Elias, pondo-se a seu serviço”. Sabemos que para chegarmos à consagração e servirmos ao Senhor como queremos servi-lo ou como Ele nos pede que o sirvamos, faz-se necessário um tempo sobre a tutela de alguém que possa nos orientar, podar, adubar, conduzir os brotos para que se assentem de forma que possam dar frutos bons.
Elias foi esse orientador na vida de Eliseu, assim como temos nossos reitores e formadores, superiores da casa e outras pessoas que tem o difícil papel de orientar; e sob a orientação do Espírito Santo por luzes em nossa caminhada para bem discernirmos o que e como devemos agir. O texto fala que Eliseu servia a Elias, crendo que Elias é profeta de Deus e que este o tenha chamado por meio daquele, servir a um implica servir o outro. Assim quando um vocacionado encontra em sua vida um superior que saiba que aquela vocação que tem nas mãos, não é obra de desejo humano, mas convite feito pelo próprio Deus e que é dom precioso; que deve ser trabalho com esmero e carinho para que alcance a meta que o Autor do chamado fez.
Notamos que aqui, Eliseu faz aquilo que muitos de nossos jovens fazem quando sentem o chamado a serem mensageiros de Deus; deixam o que estavam fazendo, vão até em casa, consideram as condições de suas famílias e adorando a Deus em ação de graças seguem a voz Daquele que o chamou. Quem chama, chama a algo, a algum lugar, a uma família religiosa ou a uma diocese, mas é um meio de trabalho para Aquele que chamou. Ao entrarmos em uma comunidade religiosa ou diocese estamos dando uma resposta de amor a um chamado que tem uma só meta: anunciar o Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo.
Não entramos para vivermos um carisma que é fim em si mesmo, mas um carisma que foi colocado no coração do fundador ou da fundadora para que usando seus dons, aquilo que melhor sabia fazer para anunciar Jesus Cristo. Por vezes nos identificamos mais com este ou aquele carisma dependendo dos dons que temos, mas não podemos jamais perder de vista que a meta de qualquer chamado dentro da comunidade cristã é para servirmos a Jesus Cristo e anunciarmos o seu Reino. Muitas ordens e comunidades estão minguando nas vocações porque esqueceram que a vida de suas comunidades é Jesus Cristo e que todos os outros projetos devem ter essa espiritualidade como base.
Elias formou Eliseu para que continuasse a missão de profeta de anunciar e denunciar os pecados do povo e de seus governantes contra a lei do Senhor. Ao instruirmos alguém sempre deixamos respingar um pouco de nossos pensamentos e atos sobre quem estamos formando – isso é impossível não acontecer, bem o sabemos – mas o que não podemos jamais esquecer é que a formação deve ter como alicerce o Evangelho e como exemplo de atitude a ser seguida, Jesus Cristo. Lembremo-nos de que corremos o grande risco de criarmos discípulos não de Jesus, mas nossos, e quando alguma coisa acontecer conosco essas pessoas serão afetadas diretamente, pois não olhavam para a meta que é Deus mas para as setas que somos nós. Que Deus nos ajude a formarmos bons, santos e perseverantes seguidores do seu Filho Jesus.



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