O chamado
de Ester (Ester 2,15-18)
O livro da rainha Ester está entre os
de minha preferência e nos faz recordar alguns contos de princesas que ouvimos
e que se fazem, consagradas e muito difundidas entre as crianças e adolescentes
de todos os tempos. Mas aqui ao contrario da intervenção de magia e outros
seres míticos inexistentes na realidade, é o próprio Deus que intervém e vai
conduzindo consequências da fraqueza humana para a glória de seu nome e bem de
todo um povo.
Esta jovem adotada e criada pelo tio
chamado Mordoqueu foi instruída nas leis de Deus e orientada para sempre buscar
agrada-lo. A história toma uma guinada quando a rainha Vasti por orgulho e
vaidade não comparece na presença do rei Assuero que a queria ao seu lado em um
banquete que era oferecido aos grandes do reino. Desmoralizado e irado pela
afronta da rainha o rei Assuero decretou sua expulsão do palácio real e a
proibição de aparecer novamente na presença do rei, o decreto incitava todos os
homens do reino a serem senhores de sua casa e as mulheres a serem-lhe submissas.
Assim começaram a procurar nova
esposa para o rei, o que para tal foram trazidas a sua presença no palácio
todas as mulheres virgens e de bela aparecia para que fosse escolhida a que
mais lhe agradasse, entre as quais, Ester foi a escolhida do rei. Assim a jovem
descendente de judeus, criada na simplicidade pelo tio, passa agora a ocupar o
lugar de rainha do reino da Pérsia. Deus a chamou ainda de forma velada para
uma magnífica missão e lhe foi preparando o coração para que acolhesse no
momento oportuno. Quantas e quantas vezes não entendemos o porquê de certos
acontecimentos em nossa vida, o porquê certas coisas acontecem sendo que tudo
parecia tão bom e tão bem estruturado.
Somente quando nos lançamos em Deus
podemos fazer loucuras de fé que outros não entenderam porque não tem o mesmo
inquietante chamado a colaborarem na obra de Deus. Quem diria que esta jovem
iria chegar aonde chegou, contrariando seus sonhos e seus preceitos, abrindo
mão de tantas outras coisas em consequência de algo realmente sem fundamento.
Quando deixamos uma comunidade tudo parece sem sentindo – digo aqui para
aqueles que deixaram a comunidade forçados e que quando estando nela realizavam
todas as suas obrigações e deveres com esmero e responsabilidade – nos falta o
chão, buscávamos sempre cumprir todas os trabalhos propostos, tínhamos
criatividade para bem corresponder ao que nos era apresentado para realizar...
mas somos convidados a mudar todo o trajeto, planos, aspirações...não sabemos
mais o que fazer.
Ester bem nos apresenta o modelo da
atitude que devemos ter: entrega confiante e abandono total a divina
providência. Entregar-se de forma sincera a oração e apresentar-se diante de
Deus com todas as nossas potencialidades e decepções, rasgar nossa alma na
presença Dele e esperar, pois se cremos ser o nosso chamado obra de Deus então
devemos estar disponíveis para que Ele opere em nós de acordo com sua vontade e
nos guie para a meta, que pela decepção e a perda não conseguimos enxergar.
A vocação de Ester foi
consideravelmente contrária àquela que ela tanto aspirava quando junto de seu
tio. Foi necessário um acidente de percurso para que as coisas fossem entrando
no eixo e para que aquilo que parecia perdido fosse, na verdade, a salvação
para muitos. Quando tudo parecer sem sentido em nosso caminho vocacional,
quando a realidade não corresponder às expectativas, quando as portas parecerem
estar se fechando para aquilo que meu coração apresenta como convicção ou até
mesmo quando o coração estiver completamente perdido na incerteza do chamado,
ore! Coloque-se na presença de Deus e renove para com ele a confiança e
disponibilidade de querer cumprir sua vontade, mas se a dor e a desilusão for
grande de mais, peça que Ele possa conceder luzes para que a melhor decisão
seja tomada.
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