terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O chamado de Isaías (Isaías 6,6-8)

O chamado que a Sagrada Escritura nos apresenta sobre Isaías é bem peculiar; primeiro o profeta se sente impuro e não digno de ter visto o Senhor em sua glória, depois professa seu estado de impureza e um anjo purifica seus lábios com uma brasa tirada do altar. Deus pergunta como que se referindo a toda a criação: “quem enviaremos? Quem falará por nós?”. O profeta sente-se impelido pelo Espírito de Deus  a responder: “eis-me aqui. Envia-me!”
Deus ainda hoje continua chamando homens e mulheres que sabe não serem puros, sabe não serem santos – não que não haja vocacionados e vocacionadas de vida santa e puros de coração – mas levamos pela maioria, somos limitados, trazemos nossas misérias e defeitos, por vezes estamos obstinados em algo que nos impedem de sermos completamente de Deus, mas Ele sabe de tudo isso, conhece nossos corações e vê nossas intenções, nada está escondido a seus olhos.
Mas como vimos no chamado de Davi, Deus não se prende a aparência, Ele vê nosso intimo, conhece nosso coração, sabe por que estamos neste ou naquele pecado, mas mesmo assim quer que estejamos com Ele, colaborando na sua obra. Acho muito bonito quando penso em quantos sacerdotes santos e quantos nem tão santos assim que o Senhor os chamou para participarem do único sacerdócio de Jesus Cristo, e mesmo nas suas imperfeições e limitações vi a graça acontecendo, por quê? Novamente a contratição divina em relação à lógica humana, pois quando temos algo para ser feito e o queremos bem feito, buscamos os melhores e mais capacitados para executar o projeto visando o bom êxito de um no bom desempenho e qualificação do outro.
Deus não age assim! Para ele quanto mais vil e insignificante for o material mais esplendida será a obra. Até nas imperfeições humanas Ele consegue refletir a sua majestade que não perde nada, mas ganha. Ao pensarmos em um ser tão fraco e limitado como somos - nos que fomos chamados não somos em nada melhores ou piores do que os outros ao nosso redor – e vemos Deus realizar maravilhas através de nós. Pensemos por exemplo no Sacramento da Confissão, muitos pensam em não se confessarem por se tratar de um homem tão pecador quanto outro qualquer, mas através deste homem a graça do perdão e da cura chega até nosso coração quando nos abrimos para ela.
Olhemos para Isaías e veremos um israelita como qualquer outro que buscava cumprir os mandamentos de Deus, tinha suas virtudes e defeitos, dons e seu jeito de ser (não creio que Deus ao chamar modifica o que somos, creio que ele aperfeiçoa e melhora o que temos, sem esquecermos das podas que são necessárias), Deus vai ao seu encontro e o chama para a missão de anunciar ao povo a insensatez na qual estava mergulhado e exorta o povo a voltar-se para o Senhor. Isaías torna-se escolhido porque Deus encontrou em seu coração disponibilidade e sinceridade de intenção, achou nele um homem que conhecia suas limitações e não as escondeu diante de Deus, mas tirando toda máscara fez com que Ele o visse – não que Deus já não o tivesse visto assim – tal e qual ele era.

Por vezes o que falta a nós vocacionados é nos lançarmos em Deus, rasgarmos nosso coração, retirar toda máscara que possa criar em nós um medo absurdo Daquele que nos ama antes mesmo de nos apresentarmos a Ele. Isaías foi um bom profeta porque esteve sempre de cara limpa na presença de Deus e não escondia seu descontentamento e sua insegurança, era sincero. Sinceridade. Talvez seja isso a faltar em nossas relações e principalmente com Deus, pois somente quando tivermos a coragem de sermos o que somos diante de Deus e diante dos homens, podemos corresponder com generosidade à voz Daquele que nos chama e nos questiona: “quem enviarei? Quem irá por nós?

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