O chamado que a Sagrada Escritura nos
apresenta sobre Isaías é bem peculiar; primeiro o profeta se sente impuro e não
digno de ter visto o Senhor em sua glória, depois professa seu estado de
impureza e um anjo purifica seus lábios com uma brasa tirada do altar. Deus
pergunta como que se referindo a toda a criação: “quem enviaremos? Quem falará
por nós?”. O profeta sente-se impelido pelo Espírito de Deus a responder: “eis-me aqui. Envia-me!”
Deus ainda hoje continua chamando
homens e mulheres que sabe não serem puros, sabe não serem santos – não que não
haja vocacionados e vocacionadas de vida santa e puros de coração – mas levamos
pela maioria, somos limitados, trazemos nossas misérias e defeitos, por vezes
estamos obstinados em algo que nos impedem de sermos completamente de Deus, mas
Ele sabe de tudo isso, conhece nossos corações e vê nossas intenções, nada está
escondido a seus olhos.
Mas como vimos no chamado de Davi,
Deus não se prende a aparência, Ele vê nosso intimo, conhece nosso coração,
sabe por que estamos neste ou naquele pecado, mas mesmo assim quer que
estejamos com Ele, colaborando na sua obra. Acho muito bonito quando penso em
quantos sacerdotes santos e quantos nem tão santos assim que o Senhor os chamou
para participarem do único sacerdócio de Jesus Cristo, e mesmo nas suas
imperfeições e limitações vi a graça acontecendo, por quê? Novamente a
contratição divina em relação à lógica humana, pois quando temos algo para ser
feito e o queremos bem feito, buscamos os melhores e mais capacitados para
executar o projeto visando o bom êxito de um no bom desempenho e qualificação
do outro.
Deus não age assim! Para ele quanto
mais vil e insignificante for o material mais esplendida será a obra. Até nas
imperfeições humanas Ele consegue refletir a sua majestade que não perde nada,
mas ganha. Ao pensarmos em um ser tão fraco e limitado como somos - nos que
fomos chamados não somos em nada melhores ou piores do que os outros ao nosso
redor – e vemos Deus realizar maravilhas através de nós. Pensemos por exemplo
no Sacramento da Confissão, muitos pensam em não se confessarem por se tratar
de um homem tão pecador quanto outro qualquer, mas através deste homem a graça
do perdão e da cura chega até nosso coração quando nos abrimos para ela.
Olhemos para Isaías e veremos um
israelita como qualquer outro que buscava cumprir os mandamentos de Deus, tinha
suas virtudes e defeitos, dons e seu jeito de ser (não creio que Deus ao chamar
modifica o que somos, creio que ele aperfeiçoa e melhora o que temos, sem
esquecermos das podas que são necessárias), Deus vai ao seu encontro e o chama
para a missão de anunciar ao povo a insensatez na qual estava mergulhado e
exorta o povo a voltar-se para o Senhor. Isaías torna-se escolhido porque Deus
encontrou em seu coração disponibilidade e sinceridade de intenção, achou nele
um homem que conhecia suas limitações e não as escondeu diante de Deus, mas
tirando toda máscara fez com que Ele o visse – não que Deus já não o tivesse
visto assim – tal e qual ele era.
Por vezes o que falta a nós
vocacionados é nos lançarmos em Deus, rasgarmos nosso coração, retirar toda
máscara que possa criar em nós um medo absurdo Daquele que nos ama antes mesmo
de nos apresentarmos a Ele. Isaías foi um bom profeta porque esteve sempre de
cara limpa na presença de Deus e não escondia seu descontentamento e sua
insegurança, era sincero. Sinceridade. Talvez seja isso a faltar em nossas
relações e principalmente com Deus, pois somente quando tivermos a coragem de
sermos o que somos diante de Deus e diante dos homens, podemos corresponder com
generosidade à voz Daquele que nos chama e nos questiona: “quem enviarei? Quem
irá por nós?
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