O chamado
de Jó (Jó
2,7-10)
Sabemos que Jó é tido na Sagrada
Escritura como o homem que embora mergulhado na desgraça até a cabeça não
blasfemou contra Deus permanecendo-lhe firme na fé embora a amargura das perdas
(dos bens, dos filhos, da saúde e ainda o tormento causado pelos amigos)
amargurasse seu coração. Ele é figura de todo aquele que sofreu as perdas da
vida, não, digo melhor, sofreu as perdas de Deus e por isso sofre como se
nenhum outro sofrimento fosse semelhante ou tão grande quanto o seu.
Muitos de nós nos questionamos
quando, como disse anteriormente, somos atingidos por algo que não esperávamos.
Tudo cai por terra! Ficamos sem direção, sem ouvir Deus, nos sentimos
abandonados e esquecidos por Ele, não sabemos porque disso, porque conosco, mas
choramos, mergulhamos até a cabeça inteira em uma amargura sem fim que consome
nossos dias. Questionamo-nos porque teríamos nascido para tanto sofrer, acaso
não faço o que me pede o Senhor? Teria eu me desviado de sua vontade? O que
aconteceu? Seria algum pecado que desconheço?
Uma frase que autor desse livro põe
nos lábios de Jó é fundamental para entendermos sob um ponto de vista não factual,
mas providencial: “se aceitamos de Deus a felicidade, não deveríamos também
aceitar a infelicidade?” e em outro trecho nos encontraremos: “Deus deu, Deus
tirou, louvado seja Deus!”. Pode com certeza contrariar muitos adeptos da
prosperidade que acreditam que desde que nos dispomos a servir a Deus a benção
já acontece na nossa vida. Não quero aqui contrariar, nem entrar em um debate
sobre quem está ou não certo, como disse, falo aqui de minhas experiências.
É muito fácil permanecermos fieis a
Deus enquanto tudo caminha bem, nossos familiares e amigos e até nós mesmos
estamos com saúde, mas permanecer fieis diante de uma doença ou uma calúnia que
nos tira toda confiança em nós mesmos e nos lança em um vazio existencial, aí
sim veremos se nossa fé é realmente aquilo que nos ampara porque alicerçada em
Deus ou um alivio espiritual que não me compromete com meu Deus.
Jó prova que sua fé em Deus é
inabalável, ele não abre sua boca para maldizer o Senhor, mas, antes pensas ser
ele o infiel e injusto que merece aquilo que recebe. Creio em um Deus de
misericórdia e bondade, que não nos castiga por nossos pecados, mas como sábio
médico que sabe extrair da pior víbora e da planta mais venenosa o remédio para
curar do mal sofrido. Interessante a pedagogia de Deus que não evita que todo e
qualquer mal se aproxime de nós, mas usa deste que parecia algo horrível para
nos aproximar Dele e confirmar a nossa fé. Deus é bom e fiel, nós procuramos
muitas vezes o mal com nossas próprias mãos e Ele vem para fazer daquilo que
parecia não ter saída uma estrada, que embora tenha pedras, não deixa afundar
na lama. As provações virão, mais por nossas errôneas escolhas e consequência
de nossa natureza do que por desígnio de Deus, mas a questão esta em como
lidaremos com elas.
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