quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O chamado de Jó (Jó 2,7-10)


Sabemos que Jó é tido na Sagrada Escritura como o homem que embora mergulhado na desgraça até a cabeça não blasfemou contra Deus permanecendo-lhe firme na fé embora a amargura das perdas (dos bens, dos filhos, da saúde e ainda o tormento causado pelos amigos) amargurasse seu coração. Ele é figura de todo aquele que sofreu as perdas da vida, não, digo melhor, sofreu as perdas de Deus e por isso sofre como se nenhum outro sofrimento fosse semelhante ou tão grande quanto o seu.
Muitos de nós nos questionamos quando, como disse anteriormente, somos atingidos por algo que não esperávamos. Tudo cai por terra! Ficamos sem direção, sem ouvir Deus, nos sentimos abandonados e esquecidos por Ele, não sabemos porque disso, porque conosco, mas choramos, mergulhamos até a cabeça inteira em uma amargura sem fim que consome nossos dias. Questionamo-nos porque teríamos nascido para tanto sofrer, acaso não faço o que me pede o Senhor? Teria eu me desviado de sua vontade? O que aconteceu? Seria algum pecado que desconheço?
Uma frase que autor desse livro põe nos lábios de Jó é fundamental para entendermos sob um ponto de vista não factual, mas providencial: “se aceitamos de Deus a felicidade, não deveríamos também aceitar a infelicidade?” e em outro trecho nos encontraremos: “Deus deu, Deus tirou, louvado seja Deus!”. Pode com certeza contrariar muitos adeptos da prosperidade que acreditam que desde que nos dispomos a servir a Deus a benção já acontece na nossa vida. Não quero aqui contrariar, nem entrar em um debate sobre quem está ou não certo, como disse, falo aqui de minhas experiências.
É muito fácil permanecermos fieis a Deus enquanto tudo caminha bem, nossos familiares e amigos e até nós mesmos estamos com saúde, mas permanecer fieis diante de uma doença ou uma calúnia que nos tira toda confiança em nós mesmos e nos lança em um vazio existencial, aí sim veremos se nossa fé é realmente aquilo que nos ampara porque alicerçada em Deus ou um alivio espiritual que não me compromete com meu Deus.
Jó prova que sua fé em Deus é inabalável, ele não abre sua boca para maldizer o Senhor, mas, antes pensas ser ele o infiel e injusto que merece aquilo que recebe. Creio em um Deus de misericórdia e bondade, que não nos castiga por nossos pecados, mas como sábio médico que sabe extrair da pior víbora e da planta mais venenosa o remédio para curar do mal sofrido. Interessante a pedagogia de Deus que não evita que todo e qualquer mal se aproxime de nós, mas usa deste que parecia algo horrível para nos aproximar Dele e confirmar a nossa fé. Deus é bom e fiel, nós procuramos muitas vezes o mal com nossas próprias mãos e Ele vem para fazer daquilo que parecia não ter saída uma estrada, que embora tenha pedras, não deixa afundar na lama. As provações virão, mais por nossas errôneas escolhas e consequência de nossa natureza do que por desígnio de Deus, mas a questão esta em como lidaremos com elas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário