terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O chamado de Jeremias (Jeremias 1,5-10)

Sem dúvida alguma, uma das mais belas narrativas vocacionais do Antigo Testamento, ela apresenta o Senhor dizendo sobre a preleção do profeta antes mesmo que este recebesse um corpo formado no ventre materno, e o Senhor afirma: “eu já te conhecia, eu já te havia consagrado e designado profeta das nações”. Este me faz lembrar um trecho do salmo que diz que: “ainda informe os vossos olhos me olharam e por vós foram previstos os meus dias; em vosso livro estavam todos anotados, antes mesmo que um só deles existisse”.
Talvez alguns possam afirmar ao lerem este trecho que não tenhamos liberdade para escolhermos o que fazer, mas não esqueçamos, nós pensamos no tempo, estamos todos presos ao tempo, Deus existe desde sempre na eternidade. Aquilo que nossos olhos não vêm e que nossa imaginação não consegue captar, Ele vê sem sombras, com uma clareza do meio dia, pois aos seus olhos nada fica oculto, e é neste mistério que transcende nossa razão que Deus age.
Outra coisa que nos chama a atenção é que o profeta é constituído por Deus com poder de “arrancar e demolir, de arruinar e destruir, para edificar e construir”. Mas este poder não é algo que diz respeito a mim, algo que eu faço a minha vontade, mas sim, algo que vem de Deus e orienta as minhas ações como profeta para que não haja margem de erro. Quantas vezes para uma nova construção ser edificada é necessário a demolição da antiga, quantas plantas que nada produzem e ainda prejudicam as que estão nascendo ao seu lado, sufocando-as, se quisermos que o jardim produza algo, teremos que arrancar aquela planta que não está produzindo ou que está atrapalhando que outras produzam.
Ainda uma coisa chama a nossa atenção. Como na narrativa da vocação de Isaías, o profeta usa de algo que possa parecer u empecilho para a missão, desta vez aponta sua pouca idade como problema. Mais uma vez Deus nos mostra que aquilo que proclamaremos não é mensagem nossa, não é algo que eu tenha que inventar a cada dia para não cair em descrédito; a mensagem é Dele, por isso toca a boca do profeta e põe nela a sua palavra. Guardemos sempre em nosso coração essa verdade absoluta que deve ser orientadora para todo aquele que é chamado: Deus chama quem quer, na situação que quiser, envia para uma missão e nos comunica a sua palavra para que seja anunciada na integra.

Quando nos abrimos à graça divina e não temos medo do que iremos anunciar, se iremos agradar ou não, que devemos transmitir a mensagem de maneira que todos possam entender e estamos dispostos a abrir mão de nossas concepções sobre o chamado, Deus vem ao nosso encontro e nos orienta, nos toma no colo e vai a cada dia formando nossa alma e coração à sua medida. Anunciar é preciso, mesmo quando esta palavra doe em nós mesmos, mas é através deste anúncio dolorido que a vida poderá surgir para muitas pessoas e o homem encontrará aquilo que mais deseja: repouso em Deus.

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