O
chamado de Jeremias (Jeremias 1,5-10)
Sem dúvida alguma, uma das mais belas
narrativas vocacionais do Antigo Testamento, ela apresenta o Senhor dizendo
sobre a preleção do profeta antes mesmo que este recebesse um corpo formado no
ventre materno, e o Senhor afirma: “eu já te conhecia, eu já te havia
consagrado e designado profeta das nações”. Este me faz lembrar um trecho do
salmo que diz que: “ainda informe os vossos olhos me olharam e por vós foram
previstos os meus dias; em vosso livro estavam todos anotados, antes mesmo que
um só deles existisse”.
Talvez alguns possam afirmar ao lerem
este trecho que não tenhamos liberdade para escolhermos o que fazer, mas não
esqueçamos, nós pensamos no tempo, estamos todos presos ao tempo, Deus existe
desde sempre na eternidade. Aquilo que nossos olhos não vêm e que nossa
imaginação não consegue captar, Ele vê sem sombras, com uma clareza do meio
dia, pois aos seus olhos nada fica oculto, e é neste mistério que transcende
nossa razão que Deus age.
Outra coisa que nos chama a atenção é
que o profeta é constituído por Deus com poder de “arrancar e demolir, de
arruinar e destruir, para edificar e construir”. Mas este poder não é algo que
diz respeito a mim, algo que eu faço a minha vontade, mas sim, algo que vem de
Deus e orienta as minhas ações como profeta para que não haja margem de erro.
Quantas vezes para uma nova construção ser edificada é necessário a demolição
da antiga, quantas plantas que nada produzem e ainda prejudicam as que estão
nascendo ao seu lado, sufocando-as, se quisermos que o jardim produza algo,
teremos que arrancar aquela planta que não está produzindo ou que está
atrapalhando que outras produzam.
Ainda uma coisa chama a nossa
atenção. Como na narrativa da vocação de Isaías, o profeta usa de algo que
possa parecer u empecilho para a missão, desta vez aponta sua pouca idade como
problema. Mais uma vez Deus nos mostra que aquilo que proclamaremos não é
mensagem nossa, não é algo que eu tenha que inventar a cada dia para não cair
em descrédito; a mensagem é Dele, por isso toca a boca do profeta e põe nela a
sua palavra. Guardemos sempre em nosso coração essa verdade absoluta que deve
ser orientadora para todo aquele que é chamado: Deus chama quem quer, na
situação que quiser, envia para uma missão e nos comunica a sua palavra para
que seja anunciada na integra.
Quando nos abrimos à graça divina e
não temos medo do que iremos anunciar, se iremos agradar ou não, que devemos
transmitir a mensagem de maneira que todos possam entender e estamos dispostos
a abrir mão de nossas concepções sobre o chamado, Deus vem ao nosso encontro e
nos orienta, nos toma no colo e vai a cada dia formando nossa alma e coração à
sua medida. Anunciar é preciso, mesmo quando esta palavra doe em nós mesmos,
mas é através deste anúncio dolorido que a vida poderá surgir para muitas
pessoas e o homem encontrará aquilo que mais deseja: repouso em Deus.
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