segunda-feira, 27 de abril de 2015

O chamado de Moisés (Êxodo 3,1-15)

Como dissemos acima, Deus chama quem quer, como quer, quando quer, para a missão que quiser, isto é um fato que podemos notar em todos os vocacionados que a Sagrada Escritura nos apresenta. Mas alguns chamados são de forma tão específicos encaminhados para certas missões que ficamos fascinados pela forma com que Deus vai orientando tudo para o bom êxito da obra. Assim foi com Moisés! Filho de hebreus, nascido no Egito, em um povo escravo, oprimido e humilhado pelo faraó e seu povo, sobrevivente de uma chacina que pretendia exterminar toda prole masculina para não haver perigo da formação de um exercito hebreu o que desencadearia em uma revolta.
Pelo amor de mãe, de uma que o gerou e de outra que o salvou, pela primeira foi posto em um cesto e deixado á sorte nas águas do Nilo, enquanto permanecia orando ao Deus verdadeiro que o pudesse conduzir aos braços de alguém que o pudesse amar e cuidar. Assim chegou o menino aos braços da filha do faraó, a qual o amou, educou e o adotou como filho, contrariando a lógica humana, a raça tão temida pelo faraó de tomar-lhe o poder e se libertar da escravidão, entra no seio da família real, não mais como um menino que por sua origem deveria morrer, mas agora como parte do poder dominante.
Para nossa inteligência é quase, senão totalmente impossível pensar que de algo que só gera dor e sofrimento possa ser tirado algo bom, que possa gerar vida e felicidade a todo um povo. Mas a Deus, que conseguiu tirar do nada toda a criação que conhecemos, que chamou a todos à vida e ao homem, formado do barro e chamado não só á vida, mas a participar da vida divina de seu Criador, seria a desgraça empecilho para que conseguisse algo de bom?
Acontece com este hebreu algo semelhante ao nosso vocacionado anterior, ou seja, era bem sucedido. Criado na corte do faraó gozava de tratamento similar aos outros membros da família real, tinha status, respeito, possivelmente aspirava algum cargo na administração do reino, em resumo, havia alcançado aquilo que muitos egípcios aspiravam e ouso dizer, até trabalhavam para conquistar.
Com nosso Moisés podemos perceber um protótipo de muitos chamados que Deus realiza ainda hoje; os acontecimentos que nos cercam no cotidiano. Ao ver um povo tão sofrido e mau tratado, escravizado, que clamava aos céus e ao governante misericórdia e piedade; sentiu nascer dentro de seu coração uma inquietação, uma revolta que o fez cometer algo horrível, o assassinato de um egípcio. Ele é banido do Egito para não mais voltar. Em consideração á sua criação na corte lhe é permitido sair com vida do meio deles, mas o preço é o exílio.
Como dissemos, Deus consegue tirar da desgraça a graça, da maldição, a benção, da morte, a vida. Assim, neste exílio sofrido, Moisés se torna um pastor de ovelhas, e nesta fase de sua vida que o chamado irá se manifestar de forma clara e divina, aí ele conhecerá a inquietude que o fez matar um soldado egípcio, aí passa a saber que muito mais que uma revolta política e social, aquele que o chamava para algo, até então desconhecido, passa agora a saber de forma clara sobre o chamado, mas ainda os meios para a plena realização da missão dada era-lhe obscura.
Deus lhe chama do meio de uma sarça ardente que queimava, mas não se consumia. É muito bonita a narrativa, pois nos dá sinais de como é o chamado que toca em nossos corações. Não algo gritado à rivilia, no desespero de quem precisa que alguém venha, mas direcionado a uma pessoa especifica, única, amada e esperada por Deus. Deus chama pelo nome, o que implica individualidade, personalidade; existe um dialogo entre o autor do chamado e aquele que é chamado; quem chama sabe o nome do vocacionado, o que gera neste um desejo de conhecer o nome daquele que o chama.
O medo da missão, ou melhor, o medo de não conseguir cumpri-la ou de não desenvolver meios para isso, fazem com que o vocacionado se questione e exponha estes questionamentos ao que o chama. Somos todos limitados e imperfeitos! Aquilo que eu domino, outro pode fazer melhor e outro pode nem imaginar como se faz. Há uma grande diferença ontológica entre todos nós, e é exatamente nessa diferença que o chamado toma graça e dinamismo, porque trabalha com que temos e sabemos, com uma margem para a possibilidade de aprendizado ou de aperfeiçoamento.
A ousadia de Moisés é admirável, pois é inocente. Ele conversa com a manifestação que seus olhos contemplam crendo que se tratava apenas de uma visão, não sabia que o Senhor de tudo lhe chamava, olhava-lhe com carinho e daquele gesto revoltado acontecido no longínquo Egito, o seu coração se preparava para algo mais digno e pelo qual tudo o que havia acontecido antes tinha sido minuciosamente preparado e orientado por Deus para um bem maior. Digo acima inocente porque o dialogo acontece de forma tão fluente entre um e outro que podemos quase vislumbrar nossa própria vocação na de Moisés.
Há um chamado, é imposto um empecilho pelo vocacionado, o chamado é insistente, a apresentação pelo vocacionado dos empecilhos se torna enfática, quem chama fala da missão, o vocacionado se sente incapaz de a realizar, Deus afirma que estará com ele e lhe revela seu nome, como deveria ser cada passo da missão, o vocacionado ainda sim teme não ser creditado, Deus dá sinais de sua presença com ele, ainda sim o vocacionado diz não ter capacidade para realizar a missão por não ter desenvoltura no falar e pede que a missão seja delegada a outra pessoa de maior habilidade, Deus então “irritado” lhe dá um companheiro para missão, mas não o libera da missão, pelo contrário, o confirma e lhe assegura que quando for executa-la, Ele mesmo estará com eles para que tudo seja conforme seu coração.
Diante de tão veemente desejo de Deus que chama o que restaria a Moisés senão coresponder ao chamado de forma positiva. Ele se entregou á missão que lhe confiaram e tudo foi se encaixando; não de imediato, mas no momento oportuno em que a divina majestade tinha preparado. É muito bonito pensarmos que Aquele que tudo fez e que não depende de ninguém para existir ou manter a existência das criaturas, necessitou, quis necessitar do homem para que a obra de salvação do povo hebreu acontecesse. Hoje ainda Deus nos chama para continuarmos a obra de salvação que Cristo nos trouxe por sua encarnação, morte e ressurreição, para sermos construtores deste Reino que terá sua plenitude quando à segunda vinda de nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo; mas a resposta é sempre nossa e deve ser livre, consciente e amorosa.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

O chamado de Abraão (Gênesis 12,1-4)



Estranho quando pensamos que Deus somente chama aqueles que estão procurando alguma direção ou que O buscam, ignorando que Ele pode chamar quem quiser de onde quiser, quando quiser para a missão e o tempo que quiser. Ele é Deus e tudo está em suas mãos! Surpreender a criação! – essa possivelmente deve ser a maneira que Ele nos educa e busca cada dia nos conduzir para sua vontade e nos educar nas suas leis que contrariam todo sentimento de mesquinhez e egoísmo.
O vocare agora é para um caldeu de Ur, Abrão; homem já de certa idade, casado, bem sucedido na vida, dono de escravos e rebanhos; tudo muito bem estabilizado, tudo conforme a tranquilidade humana exigiria para alguém nos seus setenta e cinco anos. Mas Ele chama! Afirmamos veementemente que este Abrão que posteriormente a Sagrada Escritura chamará de Abraão é nosso pai na fé; porque soube crer num Deus que ainda não se tinha revelado de forma tão intima a nenhum outro homem.
Se acaso hoje Deus chamasse algum grande empresário, comerciante, padre ou bispo para deixar o que estivesse fazendo, com todas as coisas ao seu redor que aparentemente estivessem organizadas e bem administradas para uma missão desconhecida e, desculpe-me a redundância, aparentemente louca, deixaríamos tudo para ouvi-lo e buscaríamos seguir sua voz? Seria loucura! – uns responderiam. Insanidade. Com certeza fruto de alguma frustração. Resultado de uma desilusão, amorosa, financeira, familiar... Ou ainda na pior das hipóteses: alguma perturbação psicológica.
Dizemos crer em Deus, afirmamos ama-lo, gritamos ou murmuramos em nossas assembleias que queremos e ansiamos por ouvirmos a sua voz, sua vontade e de cumpri-la fiel e integralmente... mas só o queremos enquanto a vontade e a voz Dele não mexe na nossa comodidade, nos nossos planos. Aí preferimos cerrar nosso ouvidos e afirmarmos que precisamos de um psicólogo ou de um padre, ou um pastor - seja lá o que for – porque não devemos estar bem. Usamos de vários meios para que aquilo que a fé e as exigências de crer pedem de nós sejam abafadas e sufocadas, porque não coincidem com as minhas aspirações religiosas.
Não é mais o homem que se molda à medida do seu criador, agora o criador deve se abaixar e se amoldar às concepções banais e com fins escusos que o coração da criatura se entregou, e ao se entregar, se perdeu e se tornou disforme daquilo que pensou o seu oleiro. Coloco minhas aspirações, meus projetos, tudo o que diz respeito ao meu bem pessoal (acreditando que sei o que é bom pra mim) acima, a frente, de forma que esmague, ou na melhor das intenções, que aquiete este chamado que não é para mim pois não corresponde ás minhas expectativas e planos.
Somos, na maioria dos casos deste jeito, estamos muito bem onde estamos. Temos nossos amigos, nossos colegas, nossa família, pessoas que nos estendem a mão quando precisamos, alguns que nos atazanam e nos tiram a paz, mas tudo bem, faz parte do caminho...mas é aqui onde devo permanecer, aqui onde tenho estabilidade, onde já aprendi a lidar com tudo e todos, aqui onde cada coisa demorou para se encaixar, mas...ufa!se encaixou! Somos todos acomodados com nossas vidas, que embora não sejam perfeitas, me fazem bem, me dão, aquilo que podemos chamar de um lugar para reclinar a cabeça.
Deus quando nos chama não olha para o que já temos, o que queremos adquirir, nossas estabilidades humanas. Ele quer que nossa fé, seja realmente aquilo que é, um lançar-se em algo sem saber exatamente o que é, sem garantias humanas de cumprimento de expectativas, sem margem numérica para acertos e ganhos. Ele só, e simplesmente só, espera que nós possamos estar atentos á sua voz, que possamos ouvi-lo com atenção, que saibamos dar uma resposta que nos comprometa, que nos faça agir com seriedade e sinceridade na entrega a Ele.
Abrão só pode ser chamado posteriormente pelo próprio Deus de Abraão porque soube muito mais que sair de Harã, com sua esposa e pertences, assim foi chamado pelo Deus vivo porque soube abraçar não só com o coração ou com a razão, mas os dois juntos o fizeram empreitar uma loucura de seguir a um chamado. Quando dizemos que a fé de Abraão lhe assegurou o cumprimento da promessa não foi só por crer em Deus e em suas palavras, mas por ter crido com o coração e professado em atos que este Deus era o Deus dos impossíveis, um Deus fiel que lembra de sua aliança e a cumpre.
Talvez não para nós hoje acreditarmos em uma vocação, como afirmam alguns, tardia, seja até ridículo, talvez não sejamos corajosos o suficiente para externarmos nossa opinião sobre tal loucura, mas no fundo de nosso coração – para não dizer que mastigamos o assunto – nos questionamos: o que será que fez ele/ela em uma idade dessas tomar essa decisão? Será que não poderia só frequentar a igreja como todos da idade dele/dela, e estaria de bom tamanho? Porque isso agora? Infelizmente essas são algumas perguntas infundadas que muitos de nós fazemos, mas; não foi Deus quem chamou?
O chamado quando correspondido na generosidade, no amor, na simplicidade, na integralidade mesmo não dispensando certos questionamentos internos que devem ser bem partilhados e dirigidos por alguém guiado pelo Espírito Santo, gera no coração do vocacionado uma alegria e um entusiasmo que o faz querer se lançar de corpo e alma a missão. Porque não há coisa mais deliciosa que se entregar a algo que fala tão forte ao coração que faz calar nosso orgulho, vaidade e mesquinhez e nos proporciona um antegozo do paraíso, mesmo que embora imperfeito e temporalmente limitado, mas que trás á alma uma percepção diferente de mim e dos outros que me circundam, porque me leva a olha-los como Deus os olharia.
No percurso do caminho muita coisa vai acontecer, muitas guerras serão enfrentadas, muitas perdas aconteceram, talvez não vejamos a obra concluída, talvez só ponhamos ás bases ou quem sabe só abramos os buracos para que outros comecem a edificar, mas o que realmente vale a pena é nos deixarmos guiar por essa voz, audível só ao coração daquele que busca o Senhor mesmo na incerteza do que procura, mas o busca, porque sabe que a sua esperança e o seu caminhar não são em vão.
Abraão cometeu erros, assim como todos os que somos chamados, porque ao ouvirmos a voz de quem nos chama, só ouvimos o nosso nome e um fogo que arde em nosso coração e vai nos conduzindo, por meio de trevas e luzes á meta que Ele nos chamou e inseriu em nosso coração. Sim! Não sabemos especificamente para que nos chamou, certeza do chamado, mas a sua voz nos deixa inquietos, e essa inquietude nos leva a buscarmos uma resposta que só nós poderemos dar, somente eu e você poderemos corresponder aquele que nos ama e nos chama. Sua voz só se faz audível aquele que se dispõe a abrir seu coração à verdade eterna, que transpõe as razões deste mundo corrompido e se lança na eternidade, com Ele.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Chamado de Adão (Gênesis 1,26-27)

Deus ao criar o homem do barro da terra lhe dá a incumbência de “reinar” sobre toda a criação, isto implica que o ser humano deve ser senhor da sua história. Não me entendam mau aqui, dizer senhor da sua história, enquanto muitos irão dizer que o Senhor da história é Deus. Não discordo, ainda sim exalto o Senhor meu Deus que tudo pode e a quem tudo está submetido; mas aqui refiro-me ao homem como aquele que deve assumir a sua responsabilidade  sobre a criação, deve a cada dia cuidar daquilo que lhe foi confiado e ao final de seu dia, ou como diz são João da Cruz “no entardecer” do seu dia derradeiro apresentar-se diante da divina Majestade e oferecer-lhe tudo o que realizou com essa sua responsabilidade. Deus chama-nos para essa responsabilidade sobre a própria vida, mas também sobre a vida daqueles que nos cercam. Não nos criou para viveremos isolados absolutamente, mas para que a nossa vida fosse um constante amadurecimento e para que ajudássemos os outros que nos cercam a crescer.
A responsabilidade por existirmos não é devida a nós nem a nossos pais, é a Deus. Ele nos fez esse primeiro chamado quando ainda nem existíamos, quando, como diz o salmo: “ainda informe os vossos olhos me olharam e por vós foram previstos os meus dias”. O primeiro momento de nossa existência já Deus nos infunde seu sopro de vida que vai nos enchendo Dele e depois durante toda a vida, mesmo aqueles que dizem não crerem em Deus, aspiraram a Ele. Não é fácil pensarmos que temos um responsabilidade que não pedimos e que não queremos exercer, mas que precisamos exercer, pois deste exercício é que nos realizaremos, somente quando tendemos para cumprir aquilo a que fomos chamados sentimos a alegria encher nosso coração e uma força que não sabemos de onde vem, mas vem, tomar conta de nossa vida e ai encontramos à nossa felicidade.
Este é um dos chamados mais difíceis a serem correspondido, pois vivemos em um mundo que não se quer ter responsabilidade com nada! Não formamos mais a consciência para o bem, para a vida, para a dignidade, para sermos no mundo imagem e semelhança de Deus. Aí quando alguém se dispõe a fazê-lo, não encontra apoio de ninguém, nem mesmo daqueles que deveriam ser a voz e a mão de Deus entre os homens (aqui sem alusão especifica a nenhuma denominação religiosa especifica) estendem a mão para ajudar ou, ao menos os ouvidos para que possam escutar e refletirem sobre o assunto. Não sou aquilo a que fui chamado a ser, sou apenas o produto de uma sociedade que exclui Deus e relega somente à razão as escolhas que devem ser feitas.
Imagino quando Deus, depois de ter formado Adão do barro, ter-lhe sobrado nas narinas o seu próprio halito de vida, de perceber seu coração batendo, seus movimentos surgirem, seu primeiro olhar...Ele deve ter chorado de alegria! Agora alguém que seja igual a si, alguém que poderá caminhar e olhando as coisas todas atribuir-lhes um sentido, um função, alguém que não só vivesse, mas alguém a quem pudesse olhar com amor e o tratar como coroa de toda a criação. Cuidar de tudo, zelar por tudo, eis a grande missão que Deus deu ao homem, eis a missão que Ele ainda dá a mim e a você, mesmo que não o escutemos, mesmo que as vezes nossos ouvidos estejam surdos à sua voz, mesmo se colocamos, ou melhor, se tentamos colocar outro chamado no lugar daquele que Ele nos fez... não desiste, insiste, persiste, porque sabe qual o verdadeiro chamado: responsabilidade pela criação, incluindo eu e meus semelhantes.
Deus que nos chamou à vida pelo amor e nos chamou a participação de sua vida divina por meio do Amor que é substancia Sua, nos quer manter na existência pelo amor. Poderia não nos ter criado nada mudaria em sua gloria e majestade, ele continuaria sendo aquilo, ou melhor, aquele que sempre foi desde sempre e o continuara sendo por toda a eternidade, Deus. Mas quis nos chamar, quis nos criar e depositar em nós, suas criaturas sua admirável vida. Ele, que tudo pode, quis além de nos chamar do nada e nos dotar com seus dons para que pudéssemos colaborar em sua obra salvífica, nos deixou participarmos de sua gloria criadora.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Chamado inquietante



Deus sempre vem chamando ao longo dos tempos homens e mulheres que estejam abertos a ouvirem seu chamado e o seguirem. Os critérios dos que são chamados fogem completamente à nossa razão e à nossa lógica e nos faz concordar com São Paulo quando diz que “Deus escolhe o que é fraco para confundir os fortes”, seja como for, não conseguiremos jamais entender os critérios de escolha Daquele que nos conhece melhor que nos mesmos e que por isso, deveria estar mais atento a quem chama.
Este trabalho não visa nenhum critério teológico, exegético, apologético ou outro qualquer meio cientifico ou afins, antes de tudo é fruto de um profundo questionamento de meu chamado e de minhas incertas buscas de resposta a quem me chamou. Sempre que a vida nos faz experimentar algo que não esperávamos ou que não estávamos preparados, surge um questionamento que por vezes buscamos sufocar para que a resposta não nos amedronte ainda mais. Ao irmos de encontro com essas perguntas interiores que não nos deixam em paz, pode acontecer de encontrarmos a solução, as coisas que até então pareciam tão obscuras e tortuosas para nossa vida e nossa escolha vocacional que eram tão certas e sem margem para qualquer sombra de duvida, passam a resvalar em ocasos que nos podem conduzir a um frustração ou a uma libertação, mas a resposta depende de nós, assim como a reação diante da verdade.
Após percorrer vários caminhos vocacionais, buscando corresponder ao chamado que acreditava ter, me defronto com mais uma saída de uma comunidade religiosa da qual, acreditava firmemente pertencer e da qual queria fazer parte de forma definitiva. Foram três anos e meio nesta Ordem religiosa ao longo dos quais fui renunciando, adaptando, confrontando, questionando, amadurecendo, vivendo, rezando, estudando... fazendo planos para um futuro, que acreditava eu, estar fundando bases solidas.
Mais uma vez me perguntava o que estava acontecendo. Porque acontecia isso comigo? O que teria feito eu de errado para ser “convidado a repensar minha vocação”? Acaso teria eu feito algo que tivesse desabonado minha conduta diante dos superiores? Porque comigo e havia gente pior que eu? Sei que não sou santo e nem um exemplo de religioso a ser seguido, mas ao menos tinha uma busca de coerência de vida, enquanto outros nem isso! Porque, porque e por que... esses eram meus questionamentos. Mas, nem sempre a resposta é de acordo com a pergunta e por vezes a pergunta não terá a resposta que esperamos e aquilo que deveria iluminar e dissipar as duvidas as afunda ainda mais.
Aproveitando o lugar privilegiado onde estou, usufruindo de um silêncio quase que imposto, sem preocupação com horários e compromissos, dedicando-me mais à leitura, a oração, a pintura e ao descanso, senti um desejo forte de escrever algo que pudesse, quem sabe futuramente, mas de momento para mim, ajudar a clarear algumas noções a partir da lectio divina (leitura orante) e da reflexão, como disse acima, sem pretensão teológica, meditar sobre alguns chamados relatados na Sagrada Escritura.
Começaremos percorrendo o “caminho vocacional” de Adão, passando pelo chamado de Abraão, Moises, Davi, Jonas, Samuel, Jeremias, Isaias, Ester, entre outros do Antigo Testamento até João Batista que é considerado o ultimo dos profetas. Depois iniciaremos uma reflexão sobre os vocacionados do Novo Testamento: Maria, Zacarias, os discípulos, os apóstolos, os personagens convidados por Jesus até alguns trechos das cartas. Chamados e chamados. Deus a cada um chama de um jeito, para uma missão, e vai, ao longo da estrada, formando aquele que Ele escolheu, vai dando condições para que a missão seja bem cumprida. Somos todos diferentes, e é nessa diferença ontológica e antropológica que Deus vai agindo, pois Ele conhece bem aqueles que criou.
Se acaso discordarem de alguma reflexão ou de algum ponto de vista, peço que levem em consideração que aqui se trata de uma lectio a partir de minha experiência de fé e de pessoa. Creio que a Sagrada Escritura é inspirada por Deus como afirmam os documentos da Igreja e o Sagrado Magistério, creio que o Espírito Santo conduziu seus autores, os quais escreveram a partir de suas experiências de Deus e o escreveram não como letra morta, o escrito pelo escrito, mas escreveram para falarem de um Deus que vem a nossa historia e que se deixa tocar pelo homem e não só tocar, mas toca o homem e se faz homem.
Se algo que for escrito aqui ofender ou magoar alguém, peço antecipadamente desculpas e orações para que se houver uma próxima oportunidade  não o repita, se algo que aqui escrevo ajudar alguém que esteja passando pelas mesmas agruras que agora passo, e se puder por um pouco de luz sobre a situação, agradeça a Deus por usar criatura tão pequena e pecadora para que a sua graça alcance quem precise. Sei que a realidade de muitos jovens são parecidas com a minha, sei não de ouvir falar, mas sei porque convivi com muitos que na sua condição de homens limitados e cada um com suas guerras espirituais, psicológicas, afetivas para travar sentiam uma mesma inquietação que os impelia para seguirem à voz que os chamava. Voz essa que muito mais audível nos ouvidos o é no coração e na alma.

Como é difícil sentir que nossa alma e nosso coração tende para Deus mas que nosso corpo e nossa razão clamam pelo mundo e por coisas que o mundo pode nos proporcionar, coisas essas que nem sempre são ruins, talvez um bom emprego, um amor, uma posição social, um bom salário, a carreira dos sonhos... tudo o que diante do chamado é pó e lixo. Que minha caminhada possa encoraja-lo ou encoraja-la a acompanhar-me e a discernir bem se o chamado é uma vocação ou uma invocação (no sentido de ter obstinado em determinada coisa e não dar margem para outras possibilidades). Que estes homens e mulheres que nos antecederam na busca de resposta deste chamado inquietante possam nos ajudar com sua intercessão e junto a Deus conduzir-nos nos caminhos que nos realizará como pessoa e como filho amado de um Pai que nos chamou à vida e que quer nos conduzir à felicidade, muito mais do que neste mundo, mas para a felicidade eterna junto dele.

domingo, 5 de abril de 2015

Em mensagem de Páscoa, Papa pede paz para a humanidade

O Papa Francisco fez neste domingo, 5, no Vaticano, um apelo à paz, em sua mensagem de Páscoa, recordando as vítimas das guerras, do terrorismo e das perseguições religiosas em vários países.
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“Do Senhor ressuscitado imploramos a graça de não cedermos ao orgulho… mas termos a coragem humilde do perdão e da paz”, pediu o Papa Francisco / Foto: Reprodução CTV
“Pedimos paz, antes de tudo, para a Síria e o Iraque, para que cesse o fragor das armas e se restabeleça a boa convivência entre os diferentes grupos que compõem estes amados países”, referiu, numa intervenção proferida antes da bênção ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo], na varanda central da Basílica de São Pedro.
Francisco exigiu que a comunidade internacional “ão permaneça passiva perante a “imensa tragédia humana” nesses países e “o drama dos numerosos refugiados”.
O Papa reforçou as suas preocupações em relação aos cristãos perseguidos por causa da sua fé, lembrando ainda todos os “que sofrem injustamente as consequências dos conflitos” em curso.
Segundo o pontífice, o terrorismo não pode ser justificado com motivos religiosos, porque “quem traz dentro de si a força de Deus, o seu amor e a sua justiça, não precisa de usar violência, mas fala e age com a força da verdade, da beleza e do amor” e com “a coragem humilde do perdão e da paz”.
Francisco falou também aos habitantes da Terra Santa; fez votos de que israelitas e palestinos retomem o processo de paz, “a fim de pôr fim a tantos anos de sofrimentos e divisões”.
“Suplicamos paz para a Líbia a fim de que cesse o absurdo derramamento de sangue em curso e toda a bárbara violência”, prosseguiu o Papa, que aludiu ainda à situação no Iémen.
Francisco saudou o acordo de princípio sobre o dossiê nuclear iraniano, alcançado em Lausana, esperando “que seja um passo definitivo para um mundo mais seguro e fraterno.
O documento celebrado entre os representantes do Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha prevê o fim das sanções econômicas que afetam o país asiático.
A intervenção do Papa pediu ainda a paz para a Ucrânia, a Nigéria, o Sudão do Sul, o Sudão e a República Democrática do Congo, lembrando em particular os jovens mortos na última quinta-feira, 2,  numa Universidade de Garissa, no Quénia.
A mensagem pascal deixou uma oração “por quantos foram raptados, por quem teve de abandonar a própria casa e os seus entes queridos”.
O Papa referiu-se às vítimas da escravatura “por parte de indivíduos e organizações criminosas”, dos traficantes de armas “que lucram com o sangue de homens e de mulheres” e “dos traficantes de droga, muitas vezes aliados com os poderes que deveriam defender a paz e a harmonia”.
“Aos marginalizados, aos presos, aos pobres e aos migrantes que tantas vezes são rejeitados, maltratados e descartados; aos doentes e atribulados; às crianças, especialmente as vítimas de violência; a quantos estão hoje de luto; a todos os homens e mulheres de boa vontade chegue a voz consoladora do Senhor Jesus”, apelou.
Francisco sublinhou que a ressurreição de Jesus mostra aos crentes a humildade como “caminho da vida e da felicidade”.
“A proposta do mundo é impor-se a todo o custo, competir, fazer-se valer, mas os cristãos, pela graça de Cristo morto e ressuscitado, são os rebentos duma outra humanidade, em que se procura viver ao serviço uns dos outros, não ser arrogantes mas disponíveis e respeitadores”, enfatizou.
Jesus é despojado de suas vestes



Nós vos adoramos Senhor Jesus Cristo e vos bendizemos;
Porque pela vossa Santa Cruz, remistes o mundo!
Nesta meditação sobre as dores de Jesus até o Calvário contemplamos e quase vislumbramos o que os quatro Evangelhos nos apontam: “Os soldados repartiram entre si as vestes de Jesus” depois de O terem despido (cf. Mt 27,35; Mc 15,24; Lc 23,34b e Jo 19,23)
Assim como despiram Jesus e lançaram sorte sobre a sua túnica, ainda hoje, muitos tiram a sorte sobre a vida, o corpo, os órgãos, a dignidade e a liberdade de nossos irmãos e irmãs. Ainda hoje Cristo sofre nos corpos e na dignidade de filhos e filhas de Deus que foram enganados e forçados as mais diversas e atrozes atitudes para permanecerem vivos. E nós, como reagimos diante desta situação que nos lança a cara uma realidade que não pode permanecer impune! Se nos dizemos cristãos, devemos ter atitudes que o próprio Cristo teria, devemos nos perguntar a cada instante se Ele se calaria diante de uma injustiça, diante de uma situação de miséria e de rebaixamento  daqueles que são o objeto do amor do Pai. Ó Jesus, abri os nossos olhos para que possamos ir ao encontro do nosso próximo e tampar a sua nudez, seja ela qual for e que jamais nos calemos diante daquelas situações em por um lucro ou um prazer, tiram a sorte sobre o vosso corpo chagado e maltratado naqueles que gritam por ajuda. Amém!

João Amaro

Meditação sobre o encontro de nosso Senhor Jesus Cristo, carregando a cruz às costas rumo ao Calvário com sua Beatíssima mãe a senhora das Dores, Maria Santíssima.


Meditação sobre a Virgem das Dores
Texto base da meditação : Lamentações 1,12 (Lámed)
“Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta!”
Embora saibamos que Maria Santíssima não disse essas palavras, mas a Igreja, deste de os primeiros séculos atribuiu a ela essa lamentação. Podemos quase imaginar Maria, chorando atrás do cortejo que leva seu Divino Filho ao suplicio e entre olhares de repreensão de muitos conhecidos ou não, por entre lágrimas silenciosas, ela indaga a cada um: “existe dor igual à minha dor?”
Uma mãe que cria seu filho com todo amor, educa-o, nutre-o, cura-lhe as feridas de quedas quando criança, da ao fruto de seu amor toda a atenção, como nossas mães nos deram. Todos nós já ouvimos dizer que mãe nenhuma cria filho pra enterrar, mas espera que um dia, quando na sua velhice tiver que partir dessa terra, o seu amado filho estará ao seu lado, amparando, consolando, segurando as suas mãos...
Mas com Maria foi diferente, assim como infelizmente é com tantas mães que veem seus filhos em situações deploráveis, sub-humanas e mesmo com o coração em pedaços, nada podem fazer, mas continuam amando, consolando, fazendo-lhes companhia, ela, com uma troca de olhares, talvez um toque rápido nas mãos que tantas vezes lhe fizeram um carinho, mostra-se solidária com a dor, o sofrimento e a condenação do filho.
Maria é a figura desconsolada de tantas mães que perderam e ainda perdem seus filhos para as drogas, para a prostituição, para o alcoolismo, para pessoas sem escrúpulo que só visam o lucro e o próprio bem estar. Usando muitas vezes para adquirirem esse lucro a vida de pessoas que por um sonho ou uma desilusão, deixam suas famílias e partem sem saber se o que encontrarão será tão bom quando lhe disseram.
“Ó vós que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor semelhante à minha dor!” é o que milhares de mulheres gritam perante uma sociedade que busca somente a realização de suas necessidades e não olha para os que sofrem. É só pararmos um pouco e prestarmos atenção, quantas pessoas clamam, com voz até rouca por uma atenção, por socorro, clamam desesperadamente aos céus na esperança de que ao menos Deus se compadeça de seu sofrimento e envie um bálsamo acalentador para suas feridas.
Mãe das dores, Virgem Maria, nossa mãe, vós que estivestes junto a vosso Divino Filho no doloroso caminho da Cruz, olha para nossas mães, avós, esposas, filhas, sobrinhas, mulheres que como teu Jesus carregam uma pesada cruz nem sempre aliviadas por um Cirineu, nem sempre com suas faces limpadas por uma Verônica piedosa. Dai-lhes ó mãe vosso auxilio nas angustias, vosso consolo nas tribulações, vosso colo para chorarem quando tudo mais parecer perdido e sem razão.
Com toda certeza, Maria Santíssima esperava ter ao seu lado na hora derradeira seu filho, mas Deus aprouve-lhe de outro modo: ela, silenciosa e com um choro angustiante, consolou, animou e acima de tudo rezou pela missão de seu filho. Aquela espada de dor que o velho Simeão profetizou que lhe transpassaria a alma agora se faz real e aguda. Agora ela começa a entender muitas das coisas que guardava e meditava em seu coração, quanta coisa agora lhe vinha aos olhos da alma, quantas palavras, quantos gestos...tudo a fizeram entrar na noite mais escura da alma: quando Deus revela por definitivo seu plano de salvação e nos pede que colaboremos ofertando algo de nós, aqui, Maria, mesmo com sua dor de mãe que vê o filho sendo condenado injustamente à morte, renova o sim dado ao divino mensageiro naquele feliz dia da anunciação e com a alma rasgada de dor, O oferece ao Pai para que se cumpra a nossa salvação.

Meditação sobre o Senhor Jesus dos Passos
Texto base da meditação: Isaías 52,14-15
“Assim como, à sua vista, muitos ficaram embaraçados – tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana – assim admirarão muitos povos: os reis permanecerão mudos diante dele, porque verão o que nunca lhes tinha sido contado,e observarão um prodígio inaudito.”

Assim se expressa bem o profeta quando no chamado “Cântico do servo sofredor”descreve a visão que muitos que estavam em Jerusalém para a festa da Páscoa tiveram daquele homem que nada fez de mal, mas que soube acolher, amar, perdoar e falar de uma forma que ninguém nuca havia falado. Mas qual seria o seu crime? Que horror poderia ter cometido tal homem? Porque teve castigo tão extremo?
Aquele homem que tanto bem fez, que com um olhar despertava a esperança escondida dentro de tantos, agora estava ali, mais chagado que um leproso, coberto de sangue, ferido, cuspido, escarrado, levando bofetões de todos os lados e ainda, com os mesmo olhar de amor inabalável que fitava a cada com um carinho que jamais outro olhou ou olharia novamente. Seu crime? Tratar todos com o mesmo amor, conviver com pecadores públicos, prostitutas, cegos, aleijados, doentes de todas as formas... dizer-se filho de Deus!
Seus cabelos possivelmente embaraçados formavam uma pasta só, unida pelo sangue que escorria de suas feridas feitas pela coroa de espinhos, suas mãos e pés, amarrados, dificultando ainda mais seu caminhar, seus olhos embaçados pelo sangue, a cruz às costas que lhe feria o ombro, os pés descalços que escorregavam nas pedras do caminho, o abandono por parte de seus discípulos, a incoerência do povo que dias antes o aclamava como rei com gritos de Hosana...
Quantas pessoas, ainda hoje sofrem as mesmas dores de Cristo! Quantas pessoas que são vendidas e traficadas por pura ganância, quantas pessoas ainda tem suas mãos e pés amarrados quando são encarceradas por traficantes ou de forma injusta, outras tem que trabalhar em situações de escravidão e perdem a dignidade de poderem trabalhar para seu sustento ou de seus familiares. Quantos que se dizem amigos, mas são pedras de tropeço, pois conduzem para o vicio, a dependência, ao abandono de seus valores...conduzem à perdição completa, quase apagando neles a imagem de filhos amados de Deus.
Deus nos ama de tal modo que entregou seu Filho amado para nos resgatar do pecado e da morte, nos libertar das amarras que nos levam para longe do que Ele sonhou para nós. Mesmo assim, nos obrigam ou nós mesmos somos obrigados a carregar uma cruz que ao invés de sinal de vitória pela morte vencida se torna vida vencida pela morte! Mas Deus não desiste de nós! Vem ao nosso encontro por meio de tantas pessoas, uma Verônica que nos enxuga o rosto, um Cirineu que se inclina e nos ajuda a levantar e a carregar a cruz, um doce olhar de mãe que nos acalenta o coração...tudo isso é Deus caminhando conosco.
Quantas quedas! Quantas pedras! Quantos espinhos! Quanta coisa vai se grudando nas feridas como as roupas de Jesus em seu corpo, mas quando chega a hora de tira-las, quanta dor! Coisas que vão se fixando em nós e vão quase se tornando uma segunda pele: falsos amigos, um ou vários vícios,uma necessidade supérflua, uma amor mal orientado, tudo isso, precisa ser tirado, para que a libertação a nós trazida por Jesus e conquistada por seu sangue seja eficaz e gere-nos para uma nova vida.
Jesus caminha com a cruz às costas não por ser um vitimista ou um fatalista, uma pessoa entregue à sorte, mas o faz consciente de que a sua missão passava pela cruz e seu amor ao Pai o sustentava. Ele caminha na dor para nos indicar que nunca devemos nos paralisar seja qual for o motivo, caminhar é preciso, chegar é preciso, consumar nossa vida por amor, mas por uma amor que valha a pena é fundamental, por isso, Ele o faz por primeiro e nos mostra como fazer.

Sofrimentos virão, incompreensões, perseguições, desilusões, fracassos, mas nunca sempre tudo isso durará, um dia a chuva para, o horizonte se abre, o sol aparece, a vida renasce e a cruz que olhávamos tão penosa e dolorida será um sinal de vitória e vida!Mas a experiência da ressurreição só experimenta quem passa pelo caminho da cruz e da morte no Calvário. Jesus mostrou isso!

João Amaro

MARIA SERVA DO SENHOR


“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a tua Palavra.”(Lc 1,38)

Deste de o inicio do cristianismo, a Mãe de Jesus gozou de um especial carinho daqueles que ouviam a Boa Nova da salvação e se disponham a segui-lo. Ela fazia-se presente com a comunidade nascente, como podemos constatar nos escritos do livro de Atos: “todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.” Dela, com certeza, ouviam admirados as maravilhas que o Senhor havia realizado em tão pequena criatura (Lc 1,49) e como acompanhou com suas orações de mãe Aquele cuja vida seria entregue para que todos tivéssemos vida em plenitude (Jo 10,10).
À Maria Santíssima poderíamos aplicar o trecho de Eclesiástico 24,24-25:“Sou a mãe do puro amor, do temor a Deus, da ciência e da santa esperança, em mim se acha toda graça do caminho da verdade, em mim toda esperança da vida e da virtude.” Ou ainda poderíamos aplicar a Ela outro trecho, agora do livro dos Provérbios 31,28: “seus filhos se levantam para proclamá-la bem-aventurada e seu marido para elogiá-la.” Ainda a ela, bem se diz ao afirmar como no livro do Cântico dos cânticos 2,2: “como o lírio entre os espinhos, assim é a minha amada entre as jovens;” ou 6,10: “ao vê-la as donzelas proclamam-na bem-aventurada, rainhas e concubinas a louvam. Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua brilhante como o sol, temível como um exercito em ordem de batalha?”.
A piedade popular e a tradição, sempre conseguiu ver na Sagrada Escritura, os sinais maravilhosos de uma mulher, que embora sendo a mãe do Salvador esperado pelas nações, quis se manter uma humilde serva do Senhor! Saindo às presas para a casa de sua prima para servi-la (Lc 1,39), ou ainda quando nas bodas de Caná, pede, mesmo diante de uma resposta ríspida de seu Filho para que os serventes fizessem tudo o que Ele dissesse (Jo 2,5), mas é neste trecho do Evangelho de Mateus 3,35 que nós podemos constatar que Maria foi aquela que bem soube pôr em prática a vontade de Deus, pois sempre soube acolher e medita-la em seu coração (Lc 2,51) fazendo-se assim, mais familiar de Jesus pelo espírito de seguimento de Deus do que pelos laços de sangue.
Mas, poderíamos nos perguntar: no que consistiria ser devoto de Maria, mãe de Jesus? A resposta, quem nos dá, ora é seu próprio filho, ora é o Espírito Santo pelos escritos do Novo Testamento, ora ela mesma, com seus gestos: confiança e entrega total ao projeto de Deus (Lc 1,38), recolher-se em silêncio e meditar aquilo que não compreendemos (Lc 2,51), sabermos que é Jesus quem deve realizar a obra em nós (Jo,2,5), ouvir atentamente e saber por em pratica a palavra do Senhor (Lc 8,21), estar de pé diante das dificuldades e sofrimentos apoiados em Deus (Jo 19,25), perseverar na oração em comunidade atentos ao Espírito Santo (At 1,14), fé robusta e alicerçada em Jesus (Rm 5,1), esperança na ressurreição (Rm 6,5), consciência da santidade de seu corpo que é templo do Espírito Santo (1Cor 6,19), a pratica da caridade (1Cor 13,13), livre em Cristo para amar (Gl 5,1), viver no mundo sempre com os olhos fitos no alto (Cl 3,1)...

Se fossemos escrever todas as virtudes praticadas por Maria Santíssima, ficaríamos por muito tempo ainda, encerro esta meditação com uma exortação, a qual primeiramente eu devo ser o primeiro a ouvir e esforçar-me por praticar:“todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus; e todo o que ama aquele que o gerou, ama também aquele que dele foi gerado. Nisto conhecemos se amamos os filhos de Deus, que guardemos os seus mandamentos.”(1Jo 5,1-2) Assim espero que saibamos que Ela foi modelo dos seguidores de Jesus e foi por sua fé no seu Filho que hoje a aclamamos como bem-aventurada (Lc 1,48). “Isto vos escrevi para que saibais que tendes a vida eterna, vós que credes no nome do Filho de Deus.” (1Jo 5,13).

João Amaro