O
chamado de Davi (1 Samuel 16,3;12)
Esta narrativa sobre a escolha de um
novo rei para Israel nos faz pensar naquilo que já dissemos acima, Deus escolhe
o que é aparentemente fraco para confundir os fortes. Saul, primeiro rei de
Israel havia pecado contra o Senhor cumprindo os desejos do povo e não as
ordens dadas por Deus e transmitidas pelo profeta Samuel. Primeiro oferece o
sacrifício ao Senhor sem o consentimento Dele, sendo que Ele havia delegado
para tal o profeta; depois quando o Senhor manda exterminar os amalecitas e
tudo o que possuíam, como bois, ovelhas, cabras, enfim tudo, Saul resolve com o
povo guardar os melhores e mais cevados animais para oferecerem em sacrifício
ao Senhor.
Samuel é enviado por Deus ao rei e
lhe diz que seu descontentamento com Saul estava grande demais e que este,
enquanto buscava lhe agradar com sacrifícios, esqueceu-se daquilo que mais
agrada ao Senhor: a obediência. Assim como Saul rejeitou as ordens do Senhor,
Deus de Israel, assim também o Senhor o estava rejeitando e não mais o queria
como rei. Percebemos que Saul tenta agradar o Senhor não por amor e fidelidade,
mas para agradar o povo. Toda vez que buscamos agradar outros que não a Deus,
caímos no pecado de Saul, pecado tal que muitas vezes nossos vocacionados caem
quando tentam agradar seus superiores, abafando aquele desejo que de inicio
mostrou-se tão verdadeiro, mas que no decurso do caminho vai se revestindo de
um interesse de satisfazer as vontades de todos, menos de Deus e do primeiro
ardor que este lançou no coração.
Deus escolhe um novo rei para
governar Israel e anuncia a decisão a Samuel e o incumbe de ungir o escolhido.
Engraçado porque o profeta quando vê os filhos de Jessé, robustos, fortes,
pensa que seria um deles o escolhido de Deus, aí, Ele revela a Samuel uma das
mais belas expressões que muitas vezes nos esquecemos: “o que o homem vê não
importa,o homem vê a aparência, mas o Senhor olha o coração”. Aqui esta a
magnífica lógica de Deus! Aquilo que nós temos falado tanto e que muitas ordens
e congregações, também dioceses esqueceram é que essa escolha que Deus realiza não segue os critérios humanos, pois
estes são falhos.
Somente quem conhece nosso intimo,
com todas as nossas intenções, na sinceridade que se abriga no mais profundo de
nossa alma, pode, julgar segundo a verdade e não segundo a aparência. Quantos
de nossos jovens são descartados logo no primeiro contato buscando discernir a
sua vocação, porque, acreditem-me, são sinceros demais em sua busca. Quantos
são taxados como bobos quando expõe de maneira magnífica seu amor e seu desejo
de abandono completo nas mãos de Deus, quando, não obstante seus pecados e
fraquezas, querem ser sinais de um amor que ultrapassa beleza, utilidade e
tantos outros requisitos que na busca de uma emprego seriam muito úteis, mas
para aqueles que foram chamados a uma vocação sublime não passam de empecilhos
grosseiros que usam critérios humanos e menosprezam o que Deus escolhe por seus
critérios.
O franzido e louro Davi, pastor de
ovelhas, aparentemente menosprezado pelo próprio pai, o menos entre os filhos
de Jessé, este é o escolhido para governar o povo de Israel e ser ungido como
rei do Senhor. Ao final da narrativa da unção de Davi o autor diz que “o
Espírito do Senhor se apoderou de Davi”, ainda hoje acontece com tantos jovens
que tem seus corações inundados pelo Espírito do Senhor e que são sal na massa
e luz do mundo, que com seu testemunho arrastam atrás de si até Deus muitos
homens e mulheres, que tem a boca e o coração transbordando do Evangelho e que
anseiam por anuncia-lo, mas são considerados “Davis” ainda hoje, não aprazíveis
aos olhos pela sua baixa estatura.
Davi como rei de Israel cometeu
pecados, mas soube se arrepender e pedir perdão a Deus, soube também vibrar de
alegria na presença de Deus na arca, de compor salmos e cânticos expressando os
sentimentos seus e do povo e transforma-los em orações tão belas que ainda hoje
as usamos em nossas liturgias e momentos de orações. Encontramos numerosas
semelhanças com tantos vocacionados que aspiram a consagração, seja no
sacerdócio ou na vida religiosa, que embora tenham seus defeitos e fraquezas,
limitações e incapacidades para isso ou aquilo, mas demonstram uma maravilhosa
sensibilidade para ouvir, dialogar, caminhar, orientar e animar o povo na busca
o cumprimento da vontade de Deus.
“Não te deixeis impressionar pelo seu
aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não
é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração”.